É possível ter Esperança hoje?
É possível ter Esperança hoje? A situação é tal que a inscrição colocada por Dante nas portas do inferno, "Abandonai toda a esperança, vós que aqui entrais", parece fazer sentido para muitos.
Somos tão vítimas da ansiedade de ter, de poder, que sentimos o mundo como um navio à deriva. Dominados por estes sentimentos obscuros, é lógico que o nosso coração se encolha e que nos relacionemos com os outros apenas de acordo com os nossos próprios interesses, com um olhar ganancioso e calculista.
Creio, no entanto, que a tarefa do pensamento cristão ou, para um mundo sem Deus, do pensamento responsável é opor-se a este desespero. Precisamos de começar a cultivar novamente a Esperança e ter fé para continuar o caminho.
Será esta uma atitude racional? Não, não é. Como todas as coisas importantes na vida, esta escolha a favor da Esperança não é racional. O mesmo se passa com o amor, a amizade, a paixão, a inspiração: nenhuma destas áreas é apenas racional. Irracional, porém, não significa necessariamente falso, porque a verdade nem sempre coincide com o que é racional, pelo que pode sempre ser apreendida e definida pela razão.
É habitual acreditar-se que a Esperança é uma atitude exclusivamente cristã, mas isso não é verdade. Os antigos romanos veneravam a deusa Spes, dedicavam-lhe templos e celebravam o seu dia de festa a 1 de agosto. O cristianismo, considera a Esperança uma virtude teologal, tão fundamental como a fé e a caridade, como podem ler na última crónica.
Onde encontrar a esperança? No amor. Este é a fonte da Esperança. Mas o que é o amor? O amor é a lógica relacional que tornou e torna possível o mundo, primeiro a formação do planeta, depois o surgimento da vida, da inteligência, da liberdade, finalmente daquela liberdade que se dedica livremente a uma outra liberdade e assim alcança a plenitude do amor.
O amor é a "atração irresistível que provoca uma mudança permanente de estado no sujeito". O amor não é uma simples atração, para se poder tê-lo na sua autenticidade a atração tem de ser irresistível, caso contrário, só há interesse, simpatia, afeição, posse, mas não amor. Esta é a diferença entre dizer “gosto de ti” e dizer “amo-te”. Podemos dizer “gosto de ti” a muitas pessoas, enquanto “amo-te” apenas a algumas, na verdade muito poucas.
Os problemas de hoje são tais que desanimam qualquer pessoa: a guerra mundial mais iminente, as alterações climáticas mais devastadoras, as migrações maiores, a tecnologia mais dona das vidas... Mas, como observou Hannah Arendt: «Há nos homens uma inclinação, talvez uma necessidade, para pensar para além dos limites do conhecimento». É por isso que se origina a Esperança, que sempre esteve ligada à ao âmago do pensamento humano.
Para Isidoro de Sevilha, estudioso do século VII e especialista em etimologia, o termo latino “spes” provém de “pes”, pé. Se é verdade ou não, a etimologia é sugestiva: a Esperança é o que o faz caminhar. Sem Esperança, não se pode seguir em frente.
E seguimos em frente como? Amando!