Magoar uma mulher é insultar Deus
Primeira notícia ouvida ontem de manhã: “Só no primeiro mês deste ano, temos um quinto do total das mortes ocorridas em todo o ano de 2024”.
Pelo menos cinco mulheres morreram só em janeiro. São dados da UMAR, a União de Mulheres Alternativa e Resposta. Não são dados oficiais. Foram obtidos através de notícias publicadas na imprensa. Portanto, poderá haver mais. Hediondo!
A violência contra as mulheres é um fenómeno comum a todos os estratos sociais e a todas as idades. As vítimas nunca devem acreditar que o mereceram. Devem aprender a reconhecê-lo, a perceber a gravidade das agressões, não só físicas, mas também psicológicas. Infelizmente, é preciso convencer muitas mulheres a exigir relações baseadas no respeito mútuo. Suportar silenciosamente a desigualdade e os maus-tratos – subestimar a violência ou, pior, tolerá-la – é extremamente perigoso. A escalada do comportamento agressivo é imprevisível e custa vidas.
O problema é antes de mais cultural: se as mulheres são consideradas seres inferiores, uma espécie de objeto do qual se pode dispor à vontade, é evidente que é fácil, para certos homens, acabarem por destruí-las. Torna-se fácil, a um homem proprietário, sentir-se no direito de castigar a mulher, até mesmo com a morte, quando acredita que as suas próprias regras de honra, fidelidade e obediência incondicional foram violadas.
A incapacidade dos homens em tolerar a liberdade das mulheres, creio, está ligada à maior autonomia que as mulheres têm hoje em dia, em comparação com há alguns anos. Os homens têm dificuldade em lidar com estas mudanças. E podemos vê-lo nas culturas nórdicas, onde há mais igualdade de género.
Não é suficiente aumentar as penas deste crime. Não basta alterar o direito penal, porque diz respeito a quando é tarde demais, quando os crimes já foram cometidos.
Além de uma mudança cultural de toda a sociedade, é preciso mudar a sensibilização dos autores ou potenciais autores da violência doméstica a procurarem ajuda e serem apoiados num processo de alteração dos seus comportamentos.
Constatar que há violência doméstica, não basta. É preciso agir à priori. É preciso que não haja e/ou não se repita. É preciso criar espaços, caminhos de reflexão para que, quem cometeu crimes violentos ou mesmo quem corre o risco de os cometer, tome consciência de não desvalorizar os atos cometidos ou aqueles que poderão resultar num feminicídio. Muitos homens não têm consciência da sua própria responsabilidade e transferem-na para a vítima ou mesmo para as leis, para a educação ou para os costumes...
A família e a escola desempenham um papel fundamental no combate à violência de género. Podem e devem, intervir ao nível da prevenção. E educar sobre a igualdade e o respeito, criando a renovação cultural que é fundamental para conter o fenómeno. O conceito de mulher como ser inferior deve ser derrubado logo nas primeiras fases da educação do rapaz e da rapariga. É na família e na escola que os princípios de igualdade de tratamento entre os sexos devem ser ensinados e praticados.
No diálogo com os jovens vejo que dão importância ao crescer numa família onde os pais ensinam aos filhos o respeito pela mulher. Muitos estão sensíveis e interessados em participar em projetos de prevenção e em participar em iniciativas onde se ensina o respeito mútuo.
É fundamental, oferecer modelos concretos de relações equilibradas e equitativas às novas gerações. Se a família é frágil, a escola ou outras instituições como a paróquia ou associações desportivas podem e devem intervir como lugares formativos válidos.
«Magoar uma mulher é insultar Deus que a partir de uma mulher assumiu a nossa humanidade», disse o Papa Francisco na homilia da Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, 1 de janeiro de 2022.