Quem foi o Papa Francisco para mim?

Crónicas 29 abril 2025  •  Tempo de Leitura: 5

Não foi, de facto, um pontífice como os outros, mas um verdadeiro terramoto na história da Igreja. O seu legado não é, portanto, um património definido, mas uma abertura que permanece incerta, um terramoto cujos efeitos ainda não foram totalmente revelados, mas que nenhum apagão os poderá esconder.

 

Francisco, um papa que quis ser irmão como nós, sem qualquer superioridade. Por esta razão, no início do seu pontificado, quando apareceu pela primeira vez diante dos fiéis reunidos na Praça de São Pedro, não se apresentou com o poder de condenar ou salvar, como os imperadores nas arenas e coliseus romanos, mas inclinou-se e pediu humildemente ao povo que invocasse primeiro a sua bênção sobre ele.

 

Também por isso, nos seus últimos dias, apresentou-se em São Pedro como um velho que acaba de sair do hospital, com um poncho, calças pretas, t-shirt branca, sem cruz peitoral nem paramentos pontifícios, quase como se dissesse: "Estou convosco, irmãos e irmãs, solidário convosco na vossa experiência humana até ao ponto da fraqueza, da enfermidade..."

 

Para mim, Francisco não foi um teólogo, como Bento XVI, nem um pastor sábio, como João Paulo II, nem um intelectual penetrante, como Paulo VI, nem um legislador e diplomata, como Pio XII. Não. Francisco foi um profeta!

 

Francisco foi um profeta, e creio que ao querer aparecer na cadeira de rodas, com o poncho argentino dos camponeses, quis dar esta mensagem: “aqui estou eu, um homem como tu, vestido não como um papa, mas como um homem, fica a saber que é assim que irei. O que é completamente natural, porque quando alguém morre, quem parte para sempre é o homem, não o papa, uma vez que quando morre um papa, faz-se outro.”

Creio que foi o primeiro profeta a liderar a Igreja nos últimos dois mil anos de história. Não é por acaso que foi o primeiro a adotar o nome do santo mais profético e conhecido do calendário eclesiástico dos santos, Francisco de Assis, o louco que falava aos lobos e aos pássaros e que desprezava o poder e os poderosos. Apesar da suprema importância de São Francisco para a piedade cristã, nunca nenhum Papa se auto-intitulou como ele, precisamente porque a espiritualidade representada pela pessoa de São Francisco é difícil de conciliar com o papel do Sumo Pontífice católico, necessariamente político e necessariamente poderoso...

 

O Padre Alberto Maggi, teólogo, fundador do Centro de Estudos Bíblicos de Montefano, numa entrevista ao Cronache Maceratesi, disse:

 

«O Papa Francisco desiludiu muitos dos cardeais que o elegeram. Bispos de carreira, aqueles para quem uma nomeação era apenas um pedestal para uma função mais prestigiada. Assim como grande parte do clero, criado num rígido respeito pela doutrina e que se julgava acima das pessoas, ao mesmo tempo que nos convida a descer e a colocar-nos ao serviço destes últimos. Também desiludiu os leigos super-tradicionalistas que estavam tenazmente apegados ao passado: para estes, o Papa era um traidor que estava a conduzir a Igreja à ruína. Mas os pobres, os invisíveis, e também todos aqueles cardeais, bispos, padres e leigos que durante décadas foram marginalizados por causa da sua fidelidade ao Evangelho estavam entusiasmados com ele.»

 

Francisco, com o seu comportamento, foi uma novidade incrível: não teve a pretensão de levar os homens a Deus, mas a de levar Deus aos homens, foi a carícia do Pai para aqueles que dele se aproximaram.

 

Seguindo o exemplo de Jesus, levou Deus aos homens não com uma doutrina que nem todos podem compreender, mas teve a intuição de ser a ternura do pai para toda a criatura, mesmo para os marginalizados pela própria Igreja.

 

O Papa Francisco foi um grande homem, chegou ao coração das pessoas, quebrou tabus, estendeu a mão a todas as categorias – «Todos, todos, todos» -, todos os dias, enquanto pôde e mostrou-nos a misericórdia do Pai. 

 

Obrigado, Papa Francisco.

 

Descanse em paz.

 

P.s. Escrevo este texto no final do dia em que a Igreja faz memória de outro Profeta: Luís Maria Grignion de Montfort, 28 de Abril. Um santo mariano que fez, também ele, uma opção preferencial pelos pobres. Uma saudação especial aos Missionários Monfortinos, aos Irmãos de São Gabriel e às Filhas da Sabedoria. Um abraço a todos aqueles que fizeram a Consagração a Jesus segundo o Método de Montfort.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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