Papa Francisco: «herético, demagogo, populista e até comunista».
Nas últimas semanas chegou até nós uma carta assinada por 62 teólogos e intelectuais dispersos por todo o mundo católico, onde se contesta algumas passagens da Amores Laetitia. Já no ano passado, 4 cardeais tinham publicado uma outra carta com a Dubia, ou dúvidas acerca do mesmo documento.
Não quero cansar ninguém com as ditas dúvidas que estes cristãos "protestantes", como lhes chamou o padre Gonçalo Portocarrero de Almada e que podem ler aqui no iMissio. De herético, demagogo, populista e até comunista, tudo já chamaram ao Papa.
Desta vez, as críticas são mais diretas que no passado. Acusam-no de "protantestizar" a Igreja Católica, diminuir o primado do Papa, dessacralizar a Cadeira de Pedro, afastar-se da Tradição e criar confusão nos próprios fiéis. Tudo por causa dos católicos recasados poderem comungar.
Mas será apenas isto que está a criar tanta "urticária" a estes "estudiosos"? Por que será que vemos cardeais, teólogos, bispos, padres e tantos outros cristãos incomodados com estas posições de Francisco? Se estivermos um pouco atentos, percebemos que as críticas vêm sobretudo de uma certa igreja conservadora, ou mesmo ultraconservadora e integrista. Uma igreja que tem o sonho de voltar ao tempo anterior ao Concílio Vaticano II. Tempo esse em que igreja eram apenas o Papa, os príncipes da igreja/cardeais, bispos, padres e consagrados. Uma pirâmide de poder. Para esses, a igreja tem é que comandar e os leigos obedecer. Para esses não deve existir diálogo com as Igrejas da Reforma ou com as outras religiões. Para esses a Revelação acabou com o Concílio de Trento.
E não é só agora que se manifestam contra o Papado! Quem é que já se esqueceu de em 1978, aquando da morte do Papa Paulo VI, um grupo autointitulado de "Civilização Cristã" ter afixado em Roma cartazes com a seguinte expressão: «Agora queremos um Papa católico!»? Quem já se esqueceu de 1986 em que, na mesma cidade, foram distribuídos panfletos onde se acusava São João Paulo II de heresia por ter promovido a primeira Jornada Mundial Inter-religiosa de Assis?
Acusam o Papa Francisco de heresia, mas o que de facto está por detrás desta acusação é a ideia na qual as verdades da fé são vistas como um complexo definido e estático. Nada há a mudar. Nada se deve mudar.
Mas isto está completamente errado. Como podem esquecer que a Igreja demorou mais de 1000 anos para definir que os Sacramentos são sete? Como explicar que o Sacramento da Reconciliação já teve variadas definições? Como explicar a evolução do celibato sacerdotal? E o carácter sacramental do matrimónio?
A única "unidade de medida" para Francisco é o Evangelho. No início do seu pontificado ao escolher o nome do pobre de Assis, Francisco deu a entender que Papa queria ser: um pobre com os pobres. Ele quer "uma igreja menos mundana, capaz de resistir à tentação do poder, que sabe resistir às tentações do poder, da procura de sucesso, que sabe não só servir os pobres mas também aprender da sua cátedra", como nos escreveu Enzo Bianchi.
Uma fidelíssima semana para todos.