E hoje, quem são os pobres?
Hoje celebramos o 25º Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza. A 17 de Outubro de 1987, o padre Joseph Wresinski, desafiou os defensores dos direitos humanos a encontrarem-se na Praça do Trocadéro, em Paris, para assim celebrar este primeiro Dia Mundial. Mais de 100 mil pessoas juntaram-se nesta praça onde em 1948 foi assinada a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
“No dia 17 de Outubro de 1987, reuniram-se nesta praça numerosos defensores dos direitos humanos, numerosos cidadãos de variados países.
Eles prestaram homenagem às vítimas da fome, da ignorância e da violência. Afirmaram a sua convicção de que a miséria não é uma fatalidade. Proclamaram a sua solidariedade com aqueles que lutam no mundo inteiro para a destruírem.
Lá onde há homens condenados a viver na miséria,
aí os direitos humanos são violados.
Unir-se para os fazer respeitar é um dever sagrado."
Padre Joseph Wresinski
Em 1992, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o 17 de outubro como sendo o “Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza”.
E hoje, quem são os pobres? Creio que todos estamos de acordo no reconhecer que existe uma variedade imensa de pobreza. Todos aqueles que têm ou tiveram um percurso de vida onde conheceram, viveram ou vivem a exclusão, o abandono e a recusa, são os pobres da nossa sociedade. Se antigamente pensávamos naqueles que morriam à fome, hoje temos a consciência que não são apenas esses. Aliás, essa é a consequência de toda esta exclusão e abandono. Estas pessoas perderam a confiança e a esperança de poder vir novamente a ter uma vida digna.
Muitas vezes a pobreza é, também, sinónimo de ausência de relações, de solidão ou isolamento. A pobreza é viver na precariedade alimentar; na precariedade de alojamento. O que muitas vezes é causa ou efeito de guerra; e também, efeito das alterações climáticas...
No momento em que escrevo esta crónica, são muitas as noticias sobre destruição e morte por causa dos incêndios. Neste dia de luta contra a pobreza, associo esta tragédia à pobreza que temos que combater. Pobreza das populações esquecidas há muitos anos nesse interior longínquo da capital; pobreza da inatividade (4 meses depois de Pedrogão, tudo se repete, apesar das lamentações. Vejo de novo o primeiro ministro a dizer que temos agir!?); pobreza de interesses individuais que matam pessoas, destroem famílias e a floresta; pobreza de tanta palavra de consolo e lamentação, mas que não nos faz sair do sofá e limpar as matas e os seus acessos; pobreza que não nos altera os comportamentos e continuamos a lançar lixo nas nossas florestas...
O Papa Francisco já o disse por diversas vezes e eu repito-o: nós cristãos "não amamos só com palavras, mas com os factos"! É este o título da mensagem para a 1ª Jornada Mundial dos Pobres a celebrar no próximo dia 19 de Novembro. Os cristãos têm que ser sinal, têm que ser sal; têm que ser fermento, também aqui, no combate e na prevenção destas tragédias que são sinónimo de pobreza intelectual e amorosa para com estas nossas gentes... Convido-vos a ler novamente o texto maravilhoso que é o "Laudato si" (Louvado sejas), sobre o cuidado da casa comum.
A pobreza conduz e conduz-nos a viver nas margens da sociedade e da vida. Alimenta a cultura do descartável e dos interesses financeiros e mesquinhos no seu egoísmo e individualismo.
Votos de uma atuante semana.
[©Foto Hélio Medeiros]