Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado
Estes últimos dias foram marcados pela passagem do Cardeal Raymond Burke por terras lusas. Os "filmes" a que tive acesso, chocaram com o Evangelho segundo S. Mateus (Mt 23, 1-12) que ouvi, e com os comentários que li das celebrações dominicais.
As imagens das celebrações presididas pelo cardeal podem ser encontradas nas redes sociais ou numa simples "googlada". Ontem, em duas turmas de alunos do secundário passei algumas dessas imagens. Entre a admiração e o espanto... Nem sei como resumir as perguntas deles... Desde o "Pensei que isso já não existia! Tempo dos reis?", ao "A quem se presta homenagem nesta 'cena' de vestir o bispo: a ele ou a Deus?"...
Por mais que me digam que estes paramentos, estes cerimoniais são sinais identitários de um humilde servo de Deus...
«É um instrumento de poderosa pedagogia, bem o sabemos. Ao vermos, em condições excepcionais, Bispos com suas capas magnas, somos imediatamente transportados para um mundo em que eles são nobres – e os Cardeais, príncipes –, e a Igreja um Reino. A capa magna tem um quê de sobrenatural, exatamente pelo pulchrum que nela reside. Não é ordinária, e sim majestosa. E essa suntuosidade nos diz que a Igreja não é do dia-a-dia, que o espiritual é algo sublime, superior, acima das coisas comuns.» in salvemaliturgia.com
..."Custa-me engolir"!
Não ponho em causa a fé deste cardeal, não ponho em causa que ele acredite que esta parafernália de indumentária adequa-se ao serviço litúrgico e de Deus! Quem sou eu para o julgar? Ninguém! No entanto, sei que vivo no século XXI. Num século onde as monarquias 'ajustaram-se' ao tempo. Onde a sua autoridade visível já não é mais na forma como se vestem ou do séquito que trazem atrás, mas do testemunho vivo e atuante do que fazem e do que são. Que se espera da Igreja? Que se espera dos "humildes servos" com responsabilidades maiores? Quando se vê um Papa tão simples no trato, que se espera de um cristão?
Não consigo fazer mais nenhum comentário. Fico atónito. Deixo-vos o evangelho do deste domingo, 31º do Tempo Comum:
«Naquele tempo, Jesus falou à multidão e aos discípulos, dizendo: "Na cadeira de Moisés sentaram-se os escribas e os fariseus. Fazei e observai tudo quanto vos disserem, mas não imiteis as suas obras, porque eles dizem e não fazem.
Atam fardos pesados e põem-nos aos ombros dos homens, mas eles nem com o dedo os querem mover. E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e ampliam as borlas das suas vestes, gostam dos primeiros lugares nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas, das saudações nas praças, e de serem chamados por 'Mestres'.
Vós, porém, não queirais ser chamados 'Mestres', porque um só é o vosso Mestre, vós sois todos irmãos.
Na terra não chameis a ninguém vosso 'Pai', porque um só é o vosso pai, o Pai celeste. Nem vos deixeis tratar por 'doutores', porque um só é o vosso doutor, o Messias.
Aquele que for o maior entre vós será o vosso servo. Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado"».
Numa próxima crónica irei partilhar uma outra forma de servir. Um bispo que, mais dia menos dia, irá ser elevado às "honras dos altares".
Uma humilde semana.