Dons do Advento: a humildade e a simplicidade.
A humildade e a simplicidade devem orientar toda a nossa vida, seja na relação com pessoas, seja no exercício de qualquer atividade. As suspeitas que recaem sobre a presidente da associação Raríssimas é um exemplo da total ausência destes valores. Independentemente do resultado de todas as investigações, uma coisa sobressai na reportagem da TVI e que se tornou viral: arrogância e prepotência.
A modéstia e até uma certa "ingenuidade" devem caracterizar o exercício de todas as funções humanas. Reconhecer-se igual aos outros potencia a compreensão do mundo todo e de cada pessoa em particular. As verdadeiras amizades surgem entre iguais. Esta igualdade não está em ter as mesmas coisas ou em exercer as mesmas funções, mas em tratar o outro ou as coisas do outro como a si mesmo. Não há verdadeiro amor a Deus, se não amar o outro como a mim mesmo. Foi este o mandamento novo que Jesus nos deixou.
Quando me ponho "em bicos-de-pés", deixo de ver no outro a mesma dignidade que vejo em mim. E isto reflete-se não só no trato da outra pessoa, bem como no uso das coisas ou nas funções que me foram confiadas.
Infelizmente esta atitude de arrogância e prepotência está a "dar cabo" de toda a humildade e simplicidade dos nossos dias. Vejo isto não só no caso desta IPSS! Não será a mesma atitude que está no anuncio feito pelo presidente Donald Trump, acerca da mudança da embaixada dos Estados Unidos de Telavive para Jerusalém? E agora mais próximo de nós: não será essa atitude que está na azafama da preparação do nosso Natal?
O Natal está a tornar-se naquela data em que tenho que mostrar ao outro tudo o que não consigo ser durante o ano. A preocupação que temos em "impressionar" o vizinho com a minha festa e com as minhas prendas, está a afetar cada vez mais os próprios cristãos. A secularização não é nada mais do que isto.
O Natal está a transformar-se num dia de "montra". Um dia do calendário onde tenho que, para parecer bem, ser um pouco solidário com o "pobrezito" e ao mesmo tempo ter uma festa de arromba com os meus familiares. Esta "involução" está a afetar seriamente o mundo cristão. Vejam as iluminações de Natal em que é difícil encontrar um menino, um anjo, uma estrela... Vejam as músicas mais populares, onde os cânticos de tradição cristã são substituídos por melodias pop com poucas referências ao sagrado... Existem cidades e povoações por essa europa fora em que já não se colocam presépios nas ruas e praças...
Este Deus que nos "nasce todos os anos" nada tem a ver com estas manifestações de aparência e sumptuosidade. Este menino é um apelo à humildade e à simplicidade. Um Deus que se fez homem para viver como homem no meio dos homens. Um Deus que se tornou igual a nós!
O Advento deve ser o tempo em que preparamos o Natal. Não apenas a azáfama da comida e das prendas para a consoada, mas a preparação do nosso coração para acolher bem este Deus que veio e está. Ora, a melhor forma de o fazer, é exatamente o contrário do que habitualmente fazemos. Normalmente procuramos os centros comerciais e os mercados... Se bem que importante para o encontro familiar e a celebração da fé no acolhimento, não podemos ficar por aqui! O evangelho do passado domingo dá-nos o lugar onde nos encontramos connosco e assim preparamos o encontro com Deus: o deserto!
No lugar mais inóspito ouve-se a "boa notícia" da presença de Deus no meio dos homens. Imagem impressionante... Onde ninguém gosta de viver é de onde vem a alegria para viver... O Advento deve ser este deserto. Deve ser este tempo em que abandono os sinais falsos - materialismo, consumismo, arrogância, prepotência, egoísmo... Concentro-me nos verdadeiros - espiritualidade, frugalidade, simplicidade, humildade, partilha...
Continuação de um humilde e simples Advento.