Domingo de RAMOS: «…não se faça o que Eu quero, mas o que Tu queres»
As preocupações do dia-a-dia tomam de assalto a nossa mente e afastam-nos do sentido mais importante…
São as amêndoas, as roupas novas para os afilhados, a encomenda do Pão-de-ló, as limpezas da Páscoa…
Isto e mais isto… que nos rouba minuto a minuto o tempo certo que deveríamos parar e calar!
Este fazer silêncio não é para nós! Há tanto para tratar e tanto para comprar!
Não podemos deixar para amanhã…
Mas, para amanhã pode ficar o encontro com alguém que está só e triste… Para amanhã pode ficar a oração.
Para amanhã pode ficar o diálogo amoroso com os meus pais, com os meus filhos, com os meus amigos…
«Todas as manhãs Ele desperta os meus ouvidos, para eu escutar, como escutam os discípulos.»
e eu… todas as manhãs fecho os meus ouvidos: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?»
Caio por terra cansado e oprimido como se o mundo desabasse na minha cabeça e sinto que:
«Matilhas de cães me rodearam, cercou-me um bando de malfeitores.»
mas fui eu que fui ao seu encontro e me abandonei no meio de tamanho reboliço!
O rosto Divino de Deus já não me faz palpitar o coração…
As palavras de S. Paulo: «Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens.
Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz.»
são como ondas longínquas que ficam a pairar no ar e não conseguem despertar a Esperança no meu peito!
É hora… a Hora de Glorificar o Filho do Homem está a chegar e eu ocupo a minha mente com tudo,
pois tudo tem de ser perfeito e fico enterrado no nada…
Hoje, no domingo de Ramos, onde a Liturgia vem e aponta o dedo a mim e a ti, que andamos atarefados
a verificar se a Quaresma foi bem servida: se o jejum, a esmola e a oração foram prioridade, Jesus responde:
«Deixai-a. Porque estais a importuná-la?
Ela fez uma boa acção para comigo.
Na verdade, sempre tereis os pobres convosco
e, quando quiserdes, podereis fazer-lhes bem;
mas a Mim, nem sempre Me tereis.
Ela fez o que estava ao seu alcance:
ungiu de antemão o meu corpo para a sepultura.
Em verdade vos digo:
Onde quer que se proclamar o Evangelho,
pelo mundo inteiro,
dir-se-á também em sua memória o que ela fez».
Hoje, a Tua morte está nas minhas mãos… Sou Caifás! Sou o Povo que Te acusa de nada e de tudo!
Sou Pilatos que cobardemente lava as mãos perante a guerra e as injustiças que existem!
Hoje, sou eu que Te beijo para trair… Sou eu que Te nego centenas de vezes…
Sou eu que me rio de Ti e Te açoito com silêncios, enquanto o mal se propaga!
Hoje, sou eu que Te abandono no meio da noite e fujo nu, sem saber para onde ir e fico perdido na noite!
Passaram mais de 2000 anos e ainda não VIVO…
Não aceito que só o AMOR é capaz de travar o ressentimento, que governa o meu caminhar e sufoca o meu coração,
mas que eu alimento, que eu revisto com ouro e pedras preciosas…
Este Ressentimento de não entender a Tua vontade que me afoga numa liberdade que não sei viver…
Hoje, que as nossas quedas rasguem as nossas vestes e nos façam PARAR!
Parar e entrar numa Semana de reflexão, de escuta, de ENCONTRO profundo com o AMOR,
de Diálogo aceso, verdadeiro e permanente com Deus Pai que quer, misericordiosamente,
cada um de nós, para aniquilarmos do mundo o mal e a morte,
quando corajosamente ungimos os pés do próximo!