Esses ramos

Liturgia 13 abril 2019  •  Tempo de Leitura: 3

São apenas ramos de oliveira, mãos de alecrim, folhas de palmeira, peças perecíveis que, na manhã deste domingo, voltam a ser agitadas nas ruas do mundo. Mais uma vez, no domingo que antecede a Páscoa, a comunidade cristã recria a última entrada de Jesus na cidade santa de Jerusalém. Aquela manifestação espontânea, entusiástica e desorganizada da multidão, foi o corolário de um percurso breve e intenso. Durante os três anos de missão, Ele identificara-se com os indigentes, caminhara e comera com eles, dera nome aos sem nome, olhara nos olhos dos cegos, resgatara os paralíticos das suas cadeias e rompera com as estruturas escravizantes do poder. Ele tornara-se um sinal de esperança para uma multidão espezinhada por um exército estrangeiro, esfomeada de liberdade, sedenta de justiça.

 

Já conhecemos o final da história: aqueles que o aclamaram como o Cristo, passados poucos dias, haviam de o insultar quando, ridicularizado pelos soldados romanos, percorresse o caminho dos crucificados, em direção ao calvário. E esta imagem condensa muitas palavras.

 

Montado num jumentinho, o filho de um carpinteiro e de uma mulher praticamente desconhecida, um galileu, apresenta-se como aquele que concretiza a antiga profecia. Ele é a proximidade do reino que todos anseiam, um reino de justiça e de paz, em oposição ao império dominante que se alimenta de injustiça e de violência. Ele surge inequivocamente como o Messias. No entanto, neste mundo, o seu reinado assemelha-se às folhas das palmeiras em dia de ramos.

 

No domingo volta-se a replicar o cenário, percorrendo o troço que liga o espaço público à igreja onde se celebra a Eucaristia, a festa da Páscoa. Ontem a multidão não hesitou. Houve razões para tal euforia. Hoje, a multidão dos discípulos, vencida pela timidez, mobilizada por outras bandeiras ou simplesmente anestesiada pelo vírus da indiferença, talvez não sinta a urgência de voltar a pegar nos ramos. As ruas ficarão desertas e o silêncio há de recordar as hastes arqueadas dos cedros dos velhos cemitérios.

 

Os ramos deste domingo não são apenas ramos. São rebentos de esperança de um povo que anseia por uma primavera sem fim. São melodias que se insinuam inesperadamente num mundo ruidoso e de ritmos apressados. São símbolos de unidade numa sociedade fragmentada.

 

No domingo os ramos não são só folhagem verde. São bandeiras agitadas pelo vento, estandartes de um antigo exército, poemas, hinos dedicados ao nosso Deus e Senhor. No domingo um cortejo inusitado de fiéis voltará a peregrinar. Cantarão em tons maiores, aclamarão mansamente «Hossana Filho de David» como quem, nas ruelas sinuosas de Jerusalém, desperta os habitantes adormecidos da antiga cidade. Nós faremos parte deste grupo. Somos esses ramos agitados pelo vento.

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