Quaresma, guerra e as iniciativas do Papa
Para além da convocação de todos ao jejum e à oração pela paz, o Papa seguramente implicará a diplomacia vaticana, espalhada por todo o Mundo, na promoção da paz. Ele próprio tomou uma iniciativa nunca vista: na passada sexta-feira, deslocou-se à Embaixada da Rússia na Santa Sé para "manifestar a sua preocupação com a guerra na Ucrânia", segundo o sítio noticioso Vatican News.
O jejum e a abstinência, atitudes que caracterizam a vivência quaresmal dos católicos, são este ano reorientados pelo Papa para responder também à "insensatez da violência" com "as armas de Deus". Ao convocar esse dia de oração e jejum, o Papa pediu "a todas as partes envolvidas [na Ucrânia] que se abstenham de qualquer ação que possa causar ainda mais sofrimento às populações, desestabilizando a convivência entre as nações e desacreditando o direito internacional".
Na mensagem deste ano para a Quaresma, o Papa repropõe as três atitudes penitenciais tradicionais: a oração, o jejum e a esmola. Mas introduz novas formas da sua vivência, nomeadamente em relação ao jejum e à abstinência.
O Papa denuncia "o risco da dependência dos meios de comunicação social digitais", as redes sociais, que podem contribuir para um empobrecimento das "relações humanas". Para o Papa, a "Quaresma é um tempo propício para contrariar essas insídias, cultivando ao contrário uma comunicação humana mais integral, feita de "encontros reais", face a face".
O abster-se nas sextas-feiras da Quaresma da utilização das redes sociais, será uma nova forma de viver a abstinência quaresmal. Ainda mais agradável a Deus, se não se ficar apenas por uma privação - tal como deverá acontecer com todas as outras formas de abstinência. Para cumprir o seu sentido penitencial, terá de implicar um maior investimento nas relações presenciais e uma maior atenção aos que vivem mais isolados e solitários, aos mais pobres e desfavorecidos.