Bento XVI, um racionalista revolucionário
Joseph Ratzinger apresentou-se ao Mundo, após a sua eleição como Papa, como "simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor". Que é aquilo que sempre foi.
Como jovem teólogo contribuiu para a renovação que significou o Concílio Vaticano II. Como perito, ajudou os padres conciliares a desbravar novos caminhos para a Igreja pós-conciliar.
João Paulo II escolheu-o para ser o garante da ortodoxia da fé e nomeou-o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Desempenhou essa tarefa com a convicção que era esse o papel que agora Deus lhe pedia para desempenhar na sua Igreja.
Será devido a esse encargo, que o cardeal Joseph Ratzinger passa a ser considerado como um conservador, como um tradicionalista. Foi assim que Bento XVI foi categorizado até que começou a produzir afirmações menos alinhadas com as ideias que antes defendia. Foi o caso das proferidas numa entrevista a Peter Seewald, em 2010, em que admite que o Papa se pode equivocar e que o uso do preservativo se justifica em certas circunstâncias.
O profundo amor à Igreja levou Bento XVI a abdicar quando compreendeu que a melhor forma de a servir seria dedicar-se totalmente à oração por ela. "Só Deus conhece o valor e a força da sua intercessão, dos seus sacrifícios oferecidos pelo bem da Igreja", reconheceu o Papa Francisco, no dia da sua morte.
Notável intelectual e teólogo racionalista, Bento XVI ficará para a história por esse gesto revolucionário (e algo pós-moderno) de reivindicar para o Papa o direito a retirar-se quando está convicto que essa será a melhor forma de servir a Igreja.