Quem é Deus para ti? Respostas de jovens de hoje (1)
«Quem é Deus para ti?» Uma pergunta precisa, íntima, encadeante. A meio caminho entre o intelecto e o coração, as certezas e as dúvidas, a razão e a fé. Dada a minha jovem idade, não posso não me sentir envolvido. Um pensamento vai para os jovens que frequento. Como responderiam?
A pergunta central deste artigo nasce precisamente da necessidade de compreender o pensamento que os jovens têm sobre Deus. Talvez uma busca deste género possa ajudar a conhecer a própria resposta. É uma forma de reciprocidade. Viajar na intimidade do outro para alargar as perspetivas sobre Deus. Escavar para respirar.
Para começar bastou-me bater à porta do quarto da minha irmã, Virgínia. «Não sei quem é Deus. Nunca me perguntei. Que existe, estou certa. Mas não sei onde vê-lo. Gostaria de o encontrar nos olhos de uma pessoa. Deus, a meu ver, não está em coisas extraordinárias. Está próximo das coisas pequenas. Inclusive nas quotidianas, que acontecem acidentalmente ou são consideradas insignificantes. É isso, Deus para mim é a casualidade que permite melhorar a vida».
«Deus, para mim, é um amigo. E, enquanto tal, é uma certeza. Uma identidade com quem falar, sem vergonha ou temor. Como cada bom amigo, estou certo de que me escuta. Também me dá conselhos que se manifestam, implicitamente, nos meus comportamentos. Ajuda-me a melhorar. Ainda que não o possa ver, sei que existe»
Prossigo a minha indagação falando com Francisco, um amigo. «A pessoa que me fez ver Deus de maneira diferente de como sempre o vi foi Kanye West, o meu cantor preferido. Ele afirma que “Deus é aquele que caminha diante de mim, deixando marcas em cujo interior eu possa caminhar”. Deus é uma maneira para não se sentir só. A ideia de ter constantemente ao lado alguém, inclusive nos momentos mais complicados, dá-me alegria. Pessoalmente, concebi a ideia de outro alguém quando compreendi que tudo aquilo que andava à procura estava dentro de mim. Deus não está fora de nós. Não pode ser intercetado com os cinco sentidos. Se o busco no exterior, Deus não existe. Mais, Deus é um outro eu dentro de mim. Eu sou Deus. Tu és Deus. Existe um Deus para cada um de nós. Meditação, sofrimento, crescimento consciente, conhecimento do próximo: são tudo instrumentos para chegar a Deus. De acordo com esta lógica, o egoísmo não pode existir. Porque eu sou tu e tu és eu. Ninguém existe independentemente do outro. É verdade que o outro pode contribuir também negativamente. Mas nunca contribuirá apenas negativamente. Um obstáculo é também e sobretudo uma via. Um caminho para a reflexão, a ação e a mudança. Pensar em tudo isto possibilita-me transformar a paz em felicidade de cada vez que quero.»
Portanto, onde procurar Deus? Fora ou dentro de si? O Leonardo, meu primo, não tem dúvidas. «Deus, para mim, é um amigo. E, enquanto tal, é uma certeza. Uma identidade com quem falar, sem vergonha ou temor. Como cada bom amigo, estou certo de que me escuta. Também me dá conselhos que se manifestam, implicitamente, nos meus comportamentos. Ajuda-me a melhorar. Ainda que não o possa ver, sei que existe. Perceciono-o, por vezes, dentro de mim. É um espião que me assinala quando e onde erro. E como remediar. É por isso que é também concreto está em nós de cada vez que seguimos um seu conselho. Deus pode revelar-se igualmente através daqueles que consideramos inimigos. Se não entramos em contacto com o mal, as desilusões e o sofrimento, nunca conseguiremos identificar o bem.
«Deus, para mim, é o fio que move cada coisa. Mas não é um Deus bom, todo-poderoso, juiz, como o representa a conceção cristã. Não se pode humanizar Deus. Antes, é um Deus que vive. É pulsante. Como um pulmão que respira, Deus é uma energia que permite a cada forma interagir»
Sem um inimigo não posso reconhecer um amigo. Do mesmo modo, para encontrar Deus não se pode estar parado. A propósito, vem à minha mente a pintura “Criação de Adão”, de Miguel Ângelo: Deus estende a mão, e o homem, reconhecendo-o, procura apertá-la. Se não há reciprocidade, não pode haver o encontro com Deus. Eu, ultimamente, procuro mover-me para Deus através do voluntariado da Cáritas e o curso do Crisma. Comecei a compreender como é importante conseguir perdoar. Aprendi a ver a realidade com uma lente que torna a realidade não maior, mas diferente. Deus faz-te estar bem.»
A minha amiga Raquel tem uma visão menos confidencial, mas igualmente fascinante: «Deus, para mim, é o fio que move cada coisa. Mas não é um Deus bom, todo-poderoso, juiz, como o representa a conceção cristã. Não se pode humanizar Deus. Antes, é um Deus que vive. É pulsante. Como um pulmão que respira, Deus é uma energia que permite a cada forma interagir. E a sua essência oculta-se na forte interconexão que há entre todas as coisas: a natureza, a relação entre os seres humanos, o alinhamento dos planetas. Reconhecer, estudar e respeitar a natureza como procuro fazer há anos significa também conhecer e proteger a minha conceção de Deus. Não sei, creio que é uma resposta algo assustadora, mas ao mesmo tempo muito romântica».
«Há tempos aconteceu-me entrar numa basílica, era de manhã e estava pouca gente. Sentei-me. Ainda que me defina agnóstico, quis fazer uma oração. Não estava à procura de resolver um problema, nem queria fazer pedidos específicos. A minha oração foi dirigida a Deus para me ajudar a enfrentar a vida como gostaria. Com coragem»
Há quem, para responder, não hesite em fazer uma viagem ao passado. «Não tenho uma imagem precisa de Deus – admite Frederico –, mas tenho uma série de pensamentos que se desenvolveram desde que reencontrei a fé. Olhando para os primeiros anos da adolescência, compreendi como Deus esteve por rás da força que tive para enfrentar os momentos mais tristes da minha vida. Um insucesso é a semente para o melhor sucesso. Creio que esta é a melhor maneira que Deus tem para se manifestar. Em resumo, Deus, para mim, é uma lição. Uma figura paterna que premeia ou castiga, mas que perdoa sempre. Para compreender tudo isto, julgo que é necessário ser-se ao mesmo tempo normal e extraordinário nas suas ações. Agir, errar, compreender, empenhar-se, remediar, melhorar. Mas não culpar ninguém, nem a si próprio, pelos próprios insucessos. Eis o caminho para a sabedoria. Para Deus.»
Isabel, companheira da universidade: «Tens presente quando voltas a casa de um dia pesado e descobres que a tua mãe cozinhou o teu prato favorito? Ou já alguma vez te aconteceu observar um pôr-do-sol particularmente vivo, um último raio de luz no céu, depois de um dia inteiro a chover? A sensação que experimento nestes casos é a mesma que sinto quando penso em Deus. Segurança, alívio, proteção. Deus, para mim, é um psicólogo. Uma entidade a quem confio as preocupações. Alguém que não dá respostas, mas chaves de leitura. Alguém que te permite esclarecer o que é opaco. Amadureci este pensamento quando, graças a uma amiga do secundário, voltei a inserir-me na paróquia. Um lugar que acolhe, escuta e exalta os jovens. Ter um grupo, um espaço de partilha e reflexão, é fundamental. Também para aprender a fazer o mesmo no dia a dia: integrar e valorizar».
«Há tempos aconteceu-me entrar numa basílica», confia-me o Jorge, «era de manhã e estava pouca gente. Sentei-me. Ainda que me defina agnóstico, quis fazer uma oração. Não estava à procura de resolver um problema, nem queria fazer pedidos específicos. A minha oração foi dirigida a Deus para me ajudar a enfrentar a vida como gostaria. Com coragem. Naquele momento compreendi que, para mim, Deus é a admissão dos nossos medos. A constatação dos limites humanos. E, portanto, é a figura da esperança. O pai a que nos agarramos para superar os temores a que a vida, constantemente, nos submete».
«Ele está sempre lá. Cabe-nos saber encontrá-lo. Pode ser um amigo que te indica o caminho ou que corrige uma atitude tua. Pode ser a certeza de uma recordação. Pode ser a cultura cristã, que me ensinou onde procurar os valores. Pode estar também em nós, quando compreendemos que é preciso mudar para melhorar»
A distância ao Júlio, em experiência Erasmus [numa universidade de outro país], não me impediu de o envolver nesta sondagem. «Nunca entendi Deus como uma pessoa ou uma autoridade. Antes, Deus, para mim, é aquilo que é excelso para o ser humano. É o momento perfeito da própria vida. Um estado de êxtase e calma que não faz pensar em mais nada. Chegar a Deus, para crentes e não-crentes, significa atingir um instante de felicidade. Mesmo se é complicado compreender tudo isto, creio que vale a pena concentrar a própria vida na busca de instantes de alegria e de clarões nos quais encontrar Deus. Ultimamente, olhando para os meus hábitos e para o meu carácter, percebi que a centelha capaz de gerar esta sensação é representada pela inter-relação: ter pessoas próximas de mim. Viver e conhecer não através das pessoas, mas com as pessoas. Envolver e ser envolvido. Viver para partilhar. É vivificante. Os outros limam o meu carácter, afinam-me, determinam as minhas experiências. O próximo é uma força motriz. Agrada-me pensar nesta definição de Deus porque, no fundo, diz muito de mim».
O Nicolau privilegia uma abordagem mais concetual: «Dificuldade, consciência, tornar a partir. Deus, para mim, é esta tríade. É a transformação positiva do fracasso. Um movimento da alma. Um voltar a partir frutuoso. A génese da oportunidade. Graças ao impulso de Deus, o ser humano incarna um valor, torna-se protagonista de uma mudança que tende para melhor. E precisamente porque tudo isto parte de uma dificuldade, um erro, um fracasso, a meu ver Deus pode estar também no mal. Ele está sempre lá. Cabe-nos saber encontrá-lo. Pode ser um amigo que te indica o caminho ou que corrige uma atitude tua. Pode ser a certeza de uma recordação. Pode ser a cultura cristã, que me ensinou onde procurar os valores. Pode estar também em nós, quando compreendemos que é preciso mudar para melhorar. E dir-te-ei que, para mim, Deus está também na história da minha família».
[Guglielmo Gallone | In L'Osservatore Romano (1) (2)]