Só quero o que tiver que ser meu!

Crónicas 27 dezembro 2017  •  Tempo de Leitura: 1

No próximo ano, e em todos os que estiverem para vir depois, quero 

O sossego e a sabedoria que têm as mãos dos velhos quase no fim da vida, 

A alegria sem razão das crianças que brincam sempre sem saber porquê, 

A serenidade das árvores que, mesmo nunca tendo saído do mesmo sítio, nunca perdem a esperança de renascer

A velocidade dos rios que, sem mágoa, adormece os peixes que nadam fora do alcance da nossa vista 

A calma das ondas que vivem no mar e o silêncio dos oceanos que não têm ondas,

O sorriso de quem espera alguém no aeroporto,

Trazer no coração o cheiro que tem o pão acabado de fazer,

A falta de rumo do vento (que vai para onde tem que ir),

A luz que se espreguiça em cada raiozinho de sol,

A frescura da chuva que cai sem nunca se cansar,

A leveza que está dentro dos olhos dos pássaros,

A certeza dos dias que voltam a nascer,

A falta de pressa do anoitecer (que sabe despedir-se, com carinho, dos dias que estão para morrer),

Trazer no coração o cheiro da terra depois da chuva,

A esperança dos dias que estão para vir,

A fé na bondade das pessoas,

A vontade de perdoar outra vez,

Caminhos para percorrer, 

Paisagens para amar,

Páginas para escrever,

Tempo com aqueles que tiveram sempre tempo para me salvar,

 

Não. Não quero tudo. Só quero o que tiver que ser meu.

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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