O tempo é sinal da paciência de Deus
«O Senhor te abençoe e te proteja.
O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável.
O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz.» (Nm 6, 24-26)
"O tempo passa a correr. E quanto mais corre, mais depressa passa." Era assim que um tio meu definia o passar dos anos. Disse-mo por volta dos meus vinte anos. Até esta etapa custavam um pouco a passar. O desejo da maioridade e da independência só geravam ansiedade. Depois vinha a tranquilidade até aos trinta. Porém, a partir dos quarenta, voltava a ansiedade. Não porque custassem a passar, mas porque começavam a "acelerar"... Pois é isto mesmo que sinto eu a caminho dos cinquenta...
Perante esta velocidade, creio que nós cristãos, temos que dar algum sentido ao tempo para que não seja esquizofrénico. E a isso chama-se Espiritualidade. A espiritualidade faz com que nós vivamos cada momento como fosse o último; com intensidade porque único e decisivo. E, ao mesmo tempo, como primeiro de um tempo longo e imprevisível. «Portanto, vigiai, pois não sabeis o dia, tampouco a hora em que o Filho do homem chegará.» (Mt 25, 13) Esta tensão entre o tempo único e decisivo que é o presente e o tempo longo e imprevisível que é o futuro, é o tempo do espírito que sabe viver este tempo presente, projetando-o no seu significado último que é futuro.
O inicio de um novo ano deve ser vivido do mesmo modo com que enfrentamos a vida depois do Sacramento da Reconciliação: como Graça! Um novo ano é um dom do amor de Deus para connosco. Não somos verdadeiros proprietários do tempo. É Deus. Temos o dever de responder com responsabilidade e gratidão. Responsabilidade em saber viver este tempo connosco mesmos e com os outros, acolhendo tudo o que a vida nos dá.
Como Graça, o tempo deve ser vivido como realidade aberta e moldável. Podemos ainda mudar o pouco ou o muito que não vivemos da melhor maneira. Tudo está nas mãos d' Ele. Deus é o Senhor do tempo e da história. Ele dá-nos mais um ano para renovar connosco a aliança iniciada com Abraão e continua a convidar-nos para sermos colaboradores na construção do seu Reino. Podemos recomeçar apesar das nossas falhas e dos nossos pecados.
É um novo início, um voltar a caminhar. Mais uma oportunidade de conversão, a mudança é possível. O tempo é sinal desta paciência de Deus para connosco. Não queiramos nós desperdiçá-lo.
Bom Ano Novo!