O gesto, com poucas palavras...

Crónicas 24 março 2025  •  Tempo de Leitura: 3

Francisco é um Papa que sabe tocar, abraçar, sorrir...

 

Mas vai muito mais além. Sabe mostrar a sua fragilidade com sabedoria. É, evangelicamente, o pequeno que se torna grande. Não contra o pequeno, mas precisamente porque é pequeno, como acontece com o grão de mostarda evocado por Jesus que gera uma árvore frondosa na qual até os pássaros podem pousar. Vemos que até o seu próprio corpo, fragilizado pela doença, é comunicação, é proximidade, é intimidade.

 

O Papa, do coração enorme, habituou-nos a colocar as periferias no centro, por isso na manhã de domingo, da varanda do Hospital Gemelli, Francisco apresentou ao mundo uma pessoa até agora desconhecida pela maioria, mas não para ele: Carmela Mancuso (Carmelina, na intimidade).

 

Carmelina, de facto, participa em todas as audiências e celebrações públicas do Papa e nunca perde a oportunidade de mostrar o seu carinho por Francisco. Quer, sempre que possível, cumprimentá-lo, entregar-lhe um ramo de flores, estender-lhe a mão e desejar-lhe um bom dia. O Papa conhece-a bem, tanto que uma vez, quando Carmelina apareceu sem o habitual ramo de flores, imediatamente lhe perguntou: «Carmelina, e as flores?»

 

Mas será que o Papa a conhece apenas porque lhe oferece flores, com regularidade?

 

Não! Há uma razão. Uma razão profunda. Carmelina tem 79 anos e vive em Roma há cerca de 6 anos. É do sul de Itália, de Reggio Calábria, e foi professora primária. Mas a marca desta senhora é que sempre cuidou das pessoas que sofrem, aliás, podemos dizer que esta é a sua verdadeira missão.

 

Fê-lo sobretudo com o irmão Mimmo, deficiente, que acompanhou durante toda a sua vida terrena, vivendo com ele, apoiando-o até ao último suspiro. Igualmente amou todos os seus alunos: tanto como professora quanto como diretora pedagógica da escola primária Giovanni Pascoli.

 

De igual modo, junto com o histórico padre Pino D'Agostino, pároco de Santa Caterina Vergine e Martire, uma paróquia populosa situada a norte de Reggio Calabria e falecido em 2017, esteve na linha de frente, da cura das feridas sociais daquele bairro complicado.

 

Tudo isto sugere que a saudação do Papa a Carmelina não foi acidental. Francisco, na sua fraqueza e fragilidade, quis mostrar ao mundo um exemplo de cuidado e de proximidade: os grandes são aqueles que cuidam dos pequenos.

 

No Ano Jubilar da Esperança, o Papa pretende chamar à atenção que são pessoas, como Carmelina, que vivem de facto o Evangelho.

 

Francisco, com poucas palavras e um gesto enorme, continua a surpreender-nos...


p.s. O Papa, na viagem para casa, parou na Basílica de Santa Maria Maior, e entregou as flores ao Cardeal Makrickas, arcipreste coadjutor da própria Basílica, para serem colocadas diante do ícone da Virgem Salus Populi Romani.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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