Nós nos outros
"À medida que desenvolvemos maior aceitação por nós
e pelas nossas limitações, também descobrimos em nós
mais compaixão para com os outros."
Nancy McWilliams - Psicoterapia Psicanalítica
Como são belas e tão desafiadoras estas palavras.
Conseguirmos ir ao encontro de quem somos é, claramente, o maior de todos os desafios. É nesta descoberta das nossas limitações que, muitas das vezes, eliminamos falsas imagens. É neste confronto com aquilo que verdadeiramente somos que nos apercebemos que existe muito mais do que um "eu" solitário. É neste confronto que surge a perceção da realidade.
Acredito firmemente que este será o desafio de todos os que querem tocar no céu ou chegar à santidade. É preciso ter esta capacidade de autoconhecimento. É fundamental ter esta capacidade de autoconhecimento, para que possamos chegar até ao outro. Chegar ao outro para além do toque. Chegar ao outro para além do olhar.
É preciso, mais do que nunca, chegar ao outro através da dor. É preciso, mais do que nunca, chegar ao outro através da mente. Há muito mais em cada pessoa do que aquilo que ela nos mostra. E para se chegar a esse “invisível” é preciso conhecermos profundamente aquilo que deixamos escondido de todo o mundo. É preciso percebermos cada pensamento, cada emoção e cada comportamento.
Só assim pode existir uma verdadeira compaixão. Chegar bem junto do outro na sua dor entendendo-a e querendo ajudar a suportá-la.
Uma maior aceitação de nós e das nossas limitações leva-nos a abrir os olhos para o mundo. Uma maior aceitação de nós e das nossas limitações leva-nos a estar onde mais ninguém quer estar. Leva-nos a desafiar tudo e todos, porque deixamos para trás um ego altamente narcisista.
É disto que este mundo necessita: de aceitação. Não uma aceitação mascarada, mas uma aceitação que leve à verdadeira compreensão do outro e da pessoa que se encontra à nossa frente.
É preciso valorizar a unicidade que é revelada em cada ser humano.
É preciso valorizar cada ser humano, tal como é, percebendo, de uma vez por todas, que "somos todos mais humanos do que outra coisa", e como tal, não podemos, nem devemos ser tratados como meras máquinas.
Tenhamos a audácia de nos conhecermos verdadeiramente, para podermos estar de olhos voltados para o mundo.