O começo desta crónica não foi fácil. Primeiro porque, no início de um novo ano, temos muitos sonhos, muitas ideias, tantas coisas para partilhar. Segundo como, já se passaram alguns dias deste novo recomeçar, já vemos tudo como no ano passado... Lá diz o povo que "de boas intenções está o inferno cheio"!

Nas minhas leituras diárias sobre diversos assuntos da atualidade e, especificamente sobre religião, dedico algum do meu tempo a ler comentários aos artigos publicados na internet, a ler opiniões em blogues, jornais e revistas. E é aqui que me confronto com a mesmíssima realidade com que me deparava no passado. Somos todos grandes especialistas em tudo!

No início deste ano letivo, tive uma formação com um professor da Universidade do Minho sobre "Motivação". Aliás, trata-se de formação contínua sobre estas coisas do ensinar e aprender. O formador teve uma expressão curiosa que me tenho recordado muitas vezes ao longo destes dias: «Em matéria de Educação não podemos escolher estratégias por "achar" que são boas. Não existe a ciência do "Achómetro"!» Pois é esta "ciência" que mais abunda nas redes sociais.

Uma outra frase que me vem à memória nestes dias e que procuro ter à minha frente sempre que preparo as aulas, alguma conferência ou um simples encontro com algum casal que acompanho, é de Charles Bukowski: «O problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas e as pessoas idiotas estão cheias de certezas». Sim, o narcisismo extremo, a intolerância, a agressividade e a impaciência fáceis, são sintomas de muita idiotice e pouca inteligência.

O cristão deve pautar a sua conduta pela escuta e pela humildade. Não existe apenas o branco e o preto. Se não quisermos todas as outras cores, temos que admitir um vasto leque de cinzento entre as duas primeiras. E só Deus, sabe tudo. Só Ele é Omnisciente!

A sociedade ocidental, em geral, está a sofrer as consequências de uma ideologia que "fez carreira" a partir de meados do séc. XX: A promoção da máxima autonomia, máxima autossuficiência e máxima independência individual. O resultado desta forma de pensar, está a levar-nos a um, cada vez maior, isolamento. Por isso, temos dificuldades de comunicação. Custa-nos pensar de outra forma que não a nossa e, consequentemente, de aceitar outras formas de pensar. Passamos a vida a repetir-nos e a ouvir-nos apenas a nós próprios. Não escutamos os argumentos alheios, sempre que estes nos contradizem. E quando não conseguimos contra-argumentar, fazemo-nos de vítimas...

Talvez seja culpa da vida demasiado agitada, com empregos muito absorventes que não nos deixam ter tempo para a pausa e a reflexão. Os Magos, chegados a Jerusalém, foram pedir indicações a Herodes - não foi a melhor escolha, de facto, mas esta atitude demonstra a humildade destes sábios.

Quando olho para certos comentários, que chegam ao ponto de questionar especialistas nas diversas matérias, pergunto-me se não estamos a cair no ridículo?! Não me torno num médico só porque leio artigos sobre medicina! Ou juiz porque leio imensos textos na internet! Ou teólogo porque gosto de tudo o que seja cultura religiosa!...

Devo pronunciar-me sobre aquilo que percebo e sei, porque é da minha área de saber por estudo ou vivência. Preocupa-me esta tendência de sentirmo-nos especialistas em tudo, só porque lemos ou olhamos. Quantas vezes lemos sem compreender e olhamos sem ver? E as fontes serão válidas?

É necessária a humildade. E esta nunca é uma conquista definitiva, mas uma meta a alcançar em todos os dias.

Os Magos quando chegaram a Belém, «entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra.» (Mt 2, 11) Se repararmos, a atitude destes sábios demonstra humildade ao prostraram-se, e escuta ao adorarem. Só depois é que deram os seus presentes. Temos que aprender com eles.

Votos de uma humilde semana.