«Que Procurais?» O que é que procuramos nós?

Crónicas 16 janeiro 2018  •  Tempo de Leitura: 3

O que é que procuramos diariamente? Vivemos os nossos dias em "piloto automático". Porém, se atentarmos à pergunta de Jesus a André e a João, que é a mesma que Ele nos faz, o que é que queremos? Andamos atrás de quê?

 

Ter um trabalho que nos permita viver com dignidade, respeitando a família, com momentos de repouso e convívio, torna-se cada vez mais difícil. O emprego é cada vez mais absorvente e "concorrido"; a sociedade "seduz-nos" com coisas a ter, sempre novas; o desejo de uma carreira melhor e mais bem remunerada para responder á "ilusão" de uma vida feliz no imediato, absorve muita energia, tempo e pede enormes sacrifícios.

 

Este estilo de vida gera desordem e desarmonia, seja no corpo, seja na família e nas restantes relações pessoais. É normal o desejo de ter uma vida digna. Para isso precisamos do trabalho. No entanto, não podemos torná-lo num absoluto, porque corremos o risco de o idolatrar, juntamente com o dinheiro que dele usufruímos.

 

Quando vivemos assim, "que procuramos"? O que é que desejamos?

 

No passado mês de dezembro tive a graça de ler as meditações do padre Ermes Ronchi propostas ao Papa Francisco e à Cúria Romana durante os exercícios espirituais da Quaresma de 2016 e que foi o Recomendamos desse mês no iMissio. Curioso é que a primeira meditação tem este título: «Que procurais?» Cito uma passagem, deste livro da Paulus Editora, que me parece muito importante para perceber o sentido desta pergunta:

 

«Na tradição hebraica, conta-se que no princípio Deus criou o desejo de questionar e depositou-o no coração do homem. (...)

A proposta para estes dias é parar para escutar um Deus que questiona: nada de interrogar o Senhor, mas deixar-nos interrogar por Ele.»

 

Precisamos de parar! Esta pergunta é "fulminante"! Se de facto percebemos toda a sua dimensão, não nos resta que parar. Parar, não para perguntar a Deus o que ele quer que eu faça, mas para ouvi-Lo. Temos que parar para deixar que Deus entre em nós e assim nos responda a essa pergunta. Podemos fazê-lo lendo a nossa vida à luz do Evangelho. Só assim perceberemos, como Samuel, que Deus chama-nos. Passar alguns momentos de silêncio e de oração, deixando-nos iluminar pela Sua Palavra, abre-nos os horizontes de resposta.

 

Somos seres fascinados pela nossa autonomia. Quantas vezes ouvimos frases como esta: "Tens que ter fé em ti mesmo!"; "Tens que ter fé no Homem!". A fé não é algo que nasce de nós. Custa-nos perceber que é através da oração, de Deus partilhado nos Sacramentos e na catequese e da experiência de encontro com Ele, que ela nasce e se desenvolve.

 

O problema é que não encontramos esse tempo para deixar-nos interrogar por Ele e o ocupamos em "respostas" e metas erradas.

 

Votos de uma semana preenchida com esta pergunta: «Que procurais?».

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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