De Atenas para Jerusalém
Ao ouvir o Evangelho deste domingo, o 5º da Quaresma, pensei na minha diocese natal e no novo bispo titular, D. Manuel Linda. Fiquei contente por terminar este "vazio" de meio ano.
Mas não foi só por isto. Faço votos que D. Manuel seja como Filipe e André do Evangelho. Talvez os gregos que procuravam Jesus não o encontrassem se não fossem estes dois discípulos. Que o novo bispo do Porto seja o pastor que o rebanho da minha diocese precisa. Que saiba despertar, encorajar e conduzir o desejo a esse encontro com Cristo.
Filipe e André são nomes gregos. Por este facto é o mais certo que falassem esta língua que era muito usada na Galileia. Naquele pedaço de terra passavam muitos comerciantes com as suas caravanas: de norte para sul, de este para oeste ou vice versa. A língua internacional, o "inglês" daquela altura, era precisamente o grego. Aliás, os primeiros escritores do Novo Testamento foram corajosos e coerentes ao escreverem nesta língua e não na materna: as Cartas de São Paulo e os quatro Evangelhos.
Esta é mais uma lição para aqueles que teimam em comunicar em "línguas pouco universais".
Outro pormenor neste Evangelho é o verbo "ver": «Senhor, nós queremos ver Jesus». Em São João o "ver" não é apenas um olhar, é antes de mais um "estar" com Jesus. Logo no inicio do seu Evangelho usa o verbo no chamamento dos primeiros discípulos: «Vinde e vede» (Jo 1, 39). Ou no final, aquando da ressurreição, onde o "discípulo que Jesus amava" entrou no sepulcro vazio e «viu e acreditou» (Cf. Jo 20, 1-10).
Estes gregos que já conheciam alguma coisa da fé Judaica, estavam curiosos por estar com Jesus de quem tanto se falava naqueles dias por Jerusalém. Eles querem estar e aprender com Ele. É curioso este ponto. Estes homens que pertencem a uma cultura mais evoluída, querem estar com alguém que lhes é inferior. Se ficassem pela sua cultura jamais quereriam encontrar Jesus. E é aqui que revelam uma característica, para mim fundamental, da fé cristã: mais do que querer perceber tudo, é querer estar na companhia de Jesus; mais do que querer aprender é ouvir o anúncio de Cristo.
Aproximamo-nos da Semana Maior, a Semana Santa, aproximam-se os dias da Paixão de Cristo. Creio que mais do que tentar compreender intelectualmente o por quê de tanto sofrimento e da própria morte de Jesus e da nossa, é necessário estar com Ele e ouvir o que nos tem a dizer. Muitas vezes andamos preocupados com "teologias, liturgias, paramentos e adornos sagrados" e esquecemos que é Ele que dá sentido à nossa vida. É Ele que se deu por nós e nós não o queremos ouvir. A Quaresma deve ser este tempo de escuta e de vivência da Palavra que é Jesus. Daqui até à Páscoa procuremos o essencial e não o assessório das liturgias, dos ritos e rituais.
Mais do querer compreender, queiramos viver. Mais do que Atenas, queiramos viver Jerusalém.