A formação de Homens num seminário

Crónicas 1 maio 2018  •  Tempo de Leitura: 4

Quem me conhece sabe que passei grande parte da minha vida ligado aos Missionários Monfortinos (SMM). É a minha segunda família. A esta família religiosa, devo muito do que sou. Ajudou a "modelar" o meu carácter e os meus objetivos, a aprofundar os valores já apreendidos na família, a definir um futuro. A eles devo muitíssimo do que sou hoje, como homem e como cristão.

 

Este último sábado, dia em que se comemora a memória de Luis Maria Grignion de Montfort e depois de 18 anos, voltaram a encontrar-se na "velha casa" alguns dos tantos alunos. Pelo "velho" seminário passaram centenas de rapazes ao longo de quase 50 anos e hoje são: padres monfortinos, de outras congregações religiosas, solteiros, casados e pais; bancários, empresários, operários fabris, professores, juízes, investigadores nas diversas áreas da ciência, economistas, gestores. empreendedores, empresários, políticos, entre outros. Da partilha que fizemos, sobressaem as qualidades daquela formação e o quanto lhes devemos. Foram, de facto, inovadores. Formaram homens imprimindo-lhes carácter, disciplina e sentido de vida.

 

Sobre esta aprendizagem, escreveu o Paulo Sousa, depois do encontro:

 

«Pode-se dizer que foi quase como ter ido para a tropa com essa idade (10 anos). Nessa altura da vida estar longe dos pais, ter de digerir rotinas rígidas, conhecer e conquistar um espaço entre desconhecidos, levar com sotaques de todo o país ao ponto de incorporar alguns como seus e até chegar ao ponto da tal partilha de um sentimento de pertença com mais de cem estudantes e mais de uma dezena de responsáveis e viver isso durante cinco anos… não se pode negar que tenhamos sido marcados por isso.

Não duvido que uma parte daquilo que sou, e somos, resulta da nossa passagem pelo Seminário Monfortino de Fátima.»

 

Nos sete anos de seminarista nesta casa, dos 11 aos 18, fui um privilegiado no que toca aos formadores que tive. Privilégio este que só me fui apercebendo e valorizando aos longo dos anos seguintes, paulatinamente...

 

Os formadores holandeses viveram de perto a 2ª Guerra Mundial. Nasceu neles o desejo de construir um mundo novo, onde esta catástrofe não se voltasse a repetir. E o seu compromisso foi através da Companhia de Maria. A espiritualidade monfortina "assenta" no lema "Por Maria a Jesus", o "Totus Tuus" de São João Paulo II. Por este motivo percebemos, quer a localização do seminário em Fátima, quer a formação religiosa mariana dada por estes holandeses, fundadores do seminário, e pelos portugueses, "filhos" desta mesma casa.

 

A formação pautada pela pontualidade, autonomia, empenhamento, corresponsabilidade, respeito recíproco, diversidade, humanidade e espiritualidade, contribuiu para o homem que sou e para o mundo onde vivo.

 

Termino com outra passagem do Paulo:

 

«Já assumi a sorte de ter pertencido a esta comunidade, mas reforço ainda o facto de que, sem que disso tivéssemos consciência, termos vivido e crescido num espaço embrionário do que viria a ser o espaço europeu. Os meus colegas da primária ainda andavam na telescola e nós já ouvíamos pérolas do calibre do popular 'godverdomme' do vernáculo holandês.

Fomos uns sortudos. Há uma certa ideia de civilização que, mais ou menos próxima da mensagem religiosa, talvez conservadora nos costumes e liberal na acção de que todos partilhamos.»

 

Seminário Monfortino de Fátima, obrigado!

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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