Senhora de Maio
Para a generalidade dos católicos, o mês de maio é vivido com o coração junto ao coração de Maria, Mãe de Jesus. Fazem-se peregrinações a Fátima, reza-se com intensidade o terço e celebram-se as novenas a Nossa Senhora. Neste mês de uma forma toda peculiar, colocamos nas mãos da Mãe de Deus, as nossas preocupações e os nossos problemas. Por estes dias recordo sempre, São Luís Maria Grignion de Montfort, com quem procuro viver a devoção mariana.
Esta espiritualidade é conhecida em Portugal graças à chegada dos Missionários Monfortinos no século passado e, fundamentalmente, ao Ato de Consagração a Jesus por meio de Maria, divulgado por vários movimentos religiosos de leigos, consagrados e sacerdotes. Esta espiritualidade é totalmente cristocêntrica. O Papa João Paulo II não teve dúvidas ao escolher como lema do seu pontificado a expressão «Totus Tuus», retirada do "Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem", no seu nº 216.
Para Monfort, Jesus, a Sabedoria Eterna e Encarnada, é o "tesouro dos tesouros para o homem" não só por ser perfeito e ter todas as qualidades e valores, mas sobretudo por nos amar de forma infinita. Existem quatro meios para obter este "tesouro dos tesouros": um desejo ardente; uma oração contínua; uma mortificação universal e uma terna e verdadeira devoção à Virgem Maria.
Luís escreve numa outra obra, "Amor da Sabedoria Eterna", anterior ao Tratado, que a devoção a Maria é «o maior, o mais maravilhoso dos segredos para ter e conservar a divina Sabedoria» (nº 203).
A encarnação é o mistério chave para compreender a função de Maria no mistério de Cristo e o seu nascimento em nós. Para Montfort a encarnação é obra da Trindade: iniciativa do Pai e por obra do Espírito Santo, o Filho de Deus encarna-se em Maria. Nossa Senhora aceita livremente esta proposta divina. Tal como nesse primeiro natal, Jesus vem até nós através de Maria. Ela não está acima de Jesus. Maria não age por iniciativa própria. Ela atua por meio da operação do Espírito Santo. A perfeita devoção a Maria consiste em consagrar-se a Jesus por meio dela e em praticar esta consagração no quotidiano fazendo todas as coisas por meio de Maria, com Maria, em Maria e por Maria a fim de melhor nos unirmos a Jesus.
Nossa Senhora é a mediadora da Graça porque portou-a no seu seio. O fim último do culto à Virgem é Jesus. A verdadeira devoção a Maria visa a perfeita consagração a Cristo.
Termino citando João Paulo II aquando da sua visita ao túmulo do santo de Montfort em setembro de 1996: «Como sabeis, devo muito a este Santo e ao seu Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. Hoje, dado que a minha visita pastoral está posta, em boa parte, sob o sinal do Batismo, quereria antes de tudo ressaltar que, no espírito de São Luís Maria, toda a vida espiritual provém diretamente do sacramento do Batismo, como demonstra uma significativa passagem do Ato de consagração a Jesus Cristo através de Maria, redigido precisamente por Montfort».