O encontro connosco e com o Outro!
Recomeço as minhas crónicas com o mesmo tema com que terminei em julho: as férias. Escrevi então:
«"Estar de férias" deve traduzir um «estar numa outra dimensão»: de gratitude e contemplação. Não é só um repouso físico, mas uma maior intimidade connosco, com os outros e com Deus. A simbologia do sétimo dia, o dia em Deus descansou de toda a sua obra, é este tempo de férias, de uma forma mais específica e intensa. Deus dá sentido a tudo, desde o nosso trabalhar ao nosso descanso.»
Portanto, se sentimos o desejo de mergulhar na loucura do "dolce fare niente" para não pensar, para esquecer as dificuldades de todos os dias… Se queremos apenas diversão, "rebentar" com as regras que nos controlam, continuando a tentar satisfazer as necessidades individuais, sem nos envolvermos de uma forma consciente no cuidado de nós mesmos e dos outros de maneira saudável… Se estamos dispostos a deixar tudo e ir para longe, mas sem desistir das mensagens e das "selfies" que, seguindo-nos como uma sombra tranquilizadora, fazem-nos sentir a ilusão de que existimos e que os outros nos seguem, que não estamos sozinhos…
Não são férias verdadeiras!
Conheço tantas pessoas que, escudadas naquele jogo psicológico do "ocupadíssimo", não usufruem de um único dia de férias… "Ocupadíssimos" com uma série de livros para lerem, de trabalhos para terminarem, permite-lhes distâncias de segurança dos outros enquanto ficam fechados sobre si mesmos…
Se os primeiros procuram nas férias uma vida feliz, estes fecham-se sobre si mesmos pensando encontrar a mesma ilusão!
Os relacionamentos requerem escuta, silêncio, empatia, reciprocidade, aceitação, presença sem condições, gratuidade, exposição de si mesmo, intimidade, alegria de estar ao lado do outro… E o que é a vida humana? Não é o estar com os outros?
Porém, se aproveitamos este período não apenas como uma oportunidade de descanso, mas também como tempo propício para um exame pessoal, um tempo em que podemos perguntar como é que Deus nos vê na relação connosco próprios e na relação com os outros… Então vivemos as férias "numa outra dimensão", quer tenha sido em casa, quer tenha sido numa viagem.
A redescoberta de toda a beleza do nosso ser e do ser dos outros, do dom que é a vida, da singularidade e da irrepetibilidade de todos os seres vivos, é sinal de que as férias foram verdadeiras.
O descanso é legítimo, até o Senhor descansou no sétimo dia (Gn 2, 3), mas como não é uma fuga da realidade, ele deve ser guardado todos os dias, para nos encontrarmos a nós mesmos, aos outros e a Deus.