Deixa para amanhã o que podes mudar hoje!
Podia muito bem ser o nosso lema. O lema que nos define como gente que tem uma predileção especial por andar às voltas e nunca sair do mesmo sítio. Somos muito bons a deixar para depois. A adiar para quando a vida quiser. A culpa do que está (e fica) por fazer nunca nos pertence nem faz casa em nós. A responsabilidade do que não se faz nunca é nossa. São sempre as circunstâncias que nos ultrapassam e que nos atropelam. São sempre os outros que não fazem o suficiente. Temos aprendido a não nos incluir na nossa própria vida. Nos dias que nos deram para viver. Caminhamos leve e alegremente como se levitássemos por cima dos momentos que nos são dados para guardar. Não importam as tragédias que acontecem, desde que não sejam dentro de nós. Não têm valor os sucessos e as vitórias dos outros, porque nos são alheios. Não servem as desculpas que os outros nos dão mas, sempre que podemos, escolhemos desculpar-nos com as palavras que não gostamos de ouvir.
Deixar para amanhã. Para depois. Para outros dias. Para uma dimensão temporal indefinida que não nos diga respeito. É assim que vivemos. Vivemos sem viver. Vivemos sem deixar marca. Sem deixar uma luz acesa para quem vier depois de nós. Apagamos tudo o que não fizemos brilhar porque temos especial gosto pela ruína. Por destruir o que já foi feito, desde que não tenha sido da nossa autoria.
Deixar para outra altura. Quando já não for preciso. Quando já tiver passado o instante certo.
Parece-me que nos tornámos reféns das escolhas que não queremos fazer. Não nos apetece mexer no que nunca foi diferente. Temos medo de mudar. De ver para além de nós, dos nossos horizontes, das nossas expectativas, das nossas pessoas, da nossa pele.
É urgente não deixar para depois. É urgente fugir da nossa sombra, das nossas prioridades, das nossas vidas impecavelmente ordenadas e arrumadas. É urgente virar tudo do avesso. É urgente não esperar.
Por isso, não te esqueças: deixa para amanhã o que podes mudar hoje e terás, amanhã, o que sempre tiveste.