Ainda vamos a tempo do que é para nós?
Não sei se queremos chegar a tempo. Não sei se as nossas intenções são (sempre) as melhores. Não sei se é assim tão fácil preferir o Bem. Não sei se não temos, também, direito a ficar furiosos. Não sei se sabemos, ao certo, o que devemos fazer a seguir. Não sei se queremos correr atrás do que julgamos ser para nós. Não sei, sequer, se vamos a tempo.
Sei, no entanto, que a vida nos brinda com desafios que nunca imaginámos como nossos. Não nos avisa. Não nos prepara nem almofada os passos que estamos prestes a dar. A vida parece perita em tirar tapetes debaixo de pés. Em retirar redes de segurança quando voamos em plena queda livre.
Sei, também, que sabemos muito pouco. Sobre tudo. E que não nos chega a sabedoria que conseguimos rascunhar até aqui. Parece-nos, às vezes, que somos personagens alheias às nossas raízes e aos essenciais que nos movem as areias de dentro. Atravessamos os dias como quem não faz a mínima ideia do que está a fazer. Enchemos os nossos pensamentos e as nossas orações de pedidos que pouco nos acrescentam.
Sei, ainda, que estamos a deixar fugir os que são nossos por não encontrarmos tempo. Estamos a deixar fugir o que é nosso por não encontrarmos disponibilidade para perceber o que queremos realmente. Com que clareza entendemos o que é, de facto, melhor para a nossa vida? Que disponibilidade queremos ter para compreender o que está, mais longe, à nossa espera?
Quantas vezes poderia ter sido diferente, se tivéssemos tentado ver melhor?
Não sei se queremos chegar a tempo do que é para nós. Preferimos ir devagar e não chegar longe. O perto sabe a lareiras acesas dentro do peito e puxa-nos para um abraço que deixa, nas mãos, o rasto do nascer do sol. Preferimos ir com calma e não chegar aos lugares que nos estão prometidos. Os lugares de sempre sabem a maresia e deixam, nos pés, uma promessa de maré baixa.
Ainda assim, talvez valha a pena ir um nadinha mais depressa. Lá à frente também há caminho. E é provável que seja o nosso.
Título sugerido por Diana Costa