Pensamentos sobre Honestidade e Caridade Cristãs
Mais uma catástrofe, a de Moçambique; mais uma série de campanhas solidárias; mais uma enorme desconfiança em algumas instituições que pretendem ajudar… É verdade que passam poucos dias desse facto hediondo que é ver uma grande quantidade de bens doados às vítimas dos incêndios de 2017 e que ainda não foram distribuídos, acabando muitos por se danificarem…
Porém, este mau exemplo não nos pode esmorecer no exercício dessa qualidade tão característica do cristianismo que é a caridade/solidariedade. Se Deus pensasse assim, não teria enviado o seu Filho para nos redimir.
«Peçamos esta graça na Quaresma: a coerência entre a realidade e as aparências.» Papa Francisco
Esta palavras foram ditas a 8 de Março, na capela da Casa de Santa Marta, como combate à hipocrisia de muitos cristãos. A Quaresma deve ser um tempo de redescoberta da simplicidade através do exercício do Jejum, da esmola e da oração.
São palavras de Francisco que de imediato me recordei ao ouvir cristãos que suspeitam que a ajuda chegue de facto a quem precisa. Infelizmente, nós cristãos estamos muitas vezes associados a esta desonestidade. Não foi só no tempo de Jesus que existiram fariseus e publicanos. Usando novamente as palavras do Papa, «hoje os católicos sentem-se "justos" porque pertencem a certa "associação", vão à "missa todos os domingos"... (…) As pessoas que buscam as aparências jamais se reconhecem pecadoras e se você lhes disser: "Mas você é pecador!" - "Mas sim, todos temos pecados!", e relativizam tudo e voltam a tornar-se justos. Aparecem até com cara de santinhos: tudo aparência. E quando existe esta diferença entre a realidade e a aparência, o Senhor usa o adjetivo: "Hipócrita".»
Sejamos realistas! Não confiamos em certas instituições? Procuramos outras. Creio que o grande problema está em ser-se verdadeiramente cristão e católico. Não existe cristianismo sem caridade! Não se ama Jesus Cristo sem amar-se o irmão que mais precisa!
Quantas vezes procuramos razões para nada fazer? Quantas vezes não somos honestos com a desculpa que não queremos ferir os sentimentos de alguém; evitar que pensem mal de nós ou que a nossa imagem e reputação seja prejudicada? Quantas vezes não ajudamos porque nos desculpamos com a desonestidade dos outros?
Quanto mais honestos formos com a nossa fé, mais solidários seremos uns com os outros. E a honestidade que aqui me refiro tem pouco a ver com o "não roubar". Escrevo sobre aquela honestidade intelectual, da integridade moral, entendida como comportamento coerente em todas as escolhas segundo as convicções próprias do meu ser cristão.
Se verdadeiramente for cristão, encontrarei formas de ser solidário com aquele que mais precisa.
Votos de uma semana quaresmal de honestidade cristã.