Somos um catálogo de despedidas
Somos doutorados em dizer adeus. Mas quando chega a hora de o fazer falham-nos as forças, as pernas, os braços, o ânimo. Convencemo-nos sobre o domínio da ciência da despedida mas na hora do tem que sernão temos, sequer, a quarta classe. Talvez faça sentido recomeçar este texto.
Somos doutorados em julgar saber dizer adeus. Não sabemos absolutamente nada, na verdade. E só conseguimos compreender isso quando a vida nos exige que o façamos. Não chegamos a estar preparados para abandonar os nossos barcos, as nossas candeias, as nossas luzes, as nossas estrelas-guias, os nossos faróis, as nossas sendas direitas. Queremos encarar a morte com a naturalidade de um copo de água mas passamos os dias a fugir dela, a temê-la, a esgueirar-nos das suas garras inesperadas. Queremos encarar as despedidas e as partidas com a naturalidade de um abrir ou fechar de olhos mas empenhamo-nos em esconder o nosso medo. Medo de perder. Medo de não saber ficar sem. Medo de não encontrar palavras. Medo de perder rumos. Medo de não saber o que fazer. Medo de esquecer demasiado depressa. Medo de nunca mais conseguir esquecer. Medo de que nunca mais nada seja igual.
Somos um catálogo de despedidas. Quando queremos ter tempo (e coragem!) sentamo-nos à sombra do que já vivemos e fizemos e atrevemo-nos a folhear esse livro tão difícil de ver. Julgo que é precisamente quando nos debruçamos sobre essas (nossas) páginas que aprendemos a dizer adeus. A olhar para quem já foi como quem nunca chega a ir. A olhar para quem partiu com olhos de quem deixou histórias semeadas.
Somos um catálogo de despedidas e a vida parece apressar-se para não nos deixar respostas pelo caminho. Como nunca sabemos quando nos despedimos, não te esqueças de abraçar os que passam por ti.