E tu, és assim tão diferente dos que criticas?
Não sei se somos assim tão diferentes daqueles que criticamos. Somos muito bons a dizer o que faríamos se estivéssemos no lugar deste ou daquele. Somos perfeitos no exercício de supor esta ou aquela situação. Somos capazes de nos convencer, até, das coragens que a nossa alma protagonizaria.
Lamentavelmente, não passamos de bons imaginadores.
Conseguimos proferir frases inteiras que convenceriam multidões. Nós?! Não seríamos capazes de passar à frente numa fila. De tirar a vez a uma pessoa deficiente, magoada, grávida, idosa ou com uma criança de colo. Não seríamos capazes de assobiar para o lado nem de fingir que não estávamos a ver. No entanto, guardamos sentimentos feios pelas pessoas que o fazem. Criticamos as pessoas que preferem o egoísmo, a maledicência, o oportunismo, o passar à frente a todo o custo, o não pensar no que vem a seguir. Tenho uma novidade para cada um: essas pessoas também somos nós.
Digo-o, e escrevo-o, para que possamos pensar sobre o assunto com alguma lucidez. Quantas vezes preferimos não ver? Quantas vezes preferimos convencer-nos que aquela pessoa não deve estar assim tão mal e só deve querer passar à nossa frente? Quantas vezes escolhemos acreditar nas aparências? Quantas vezes somos as pessoas que criticamos, julgamos e detestamos? Talvez mais do que seriam necessárias.
Precisamos de querer ver melhor. De olhar à nossa volta com olhos de quem repara e de quem sente empatia por quem partilha a rua, a estrada ou a fila connosco. Precisamos de ter um bocadinho mais de vergonha na cara. De olhar menos vezes para baixo e mais vezes em frente, para a frente e de frente.
Falta-nos tanto para sermos melhores.
Falta-nos tanto para nos afastarmos das pessoas que criticamos.
E tu? És assim tão diferente daqueles que criticas?