O Pentecostes não é o regresso à Unicidade

Crónicas 6 junho 2017  •  Tempo de Leitura: 3

Mais um atentado em Londres...

 

Ficamos com a ideia que estamos num mundo cada vez mais dividido ao contrário do que a celebração da Solenidade de Pentecostes nos parece oferecer...

 

Desde que tenho memória cristã, sempre associei o Pentecostes como o acontecimento oposto ao episódio da Torre de Babel. Em Babel os homens constroem uma torre para "chegarem" a Deus. Porém, Deus "confunde-lhes" a linguagem e eles deixam-se de entender. No Pentecostes é Deus que toma a iniciativa, desce sobre os homens e as diversas línguas já não são obstáculo à escuta das maravilhas operadas por Ele e anunciadas pelos apóstolos. Portanto, Pentecostes não é um regresso a babel, mas a sua superação. Não é o regresso à unicidade da língua. A diversidade permanece mas não divide. A diversidade deixa de ser obstáculo à escuta da Palavra de Deus.

 

Estes últimos acontecimentos, que infelizmente se vêm repetindo, são a demonstração do contrário. Parece que a "língua", isto é, a vivência da fé divide e provoca a morte. No entanto, eu creio que, mais do que de um certo fundamentalismo religioso, estes atentados são fruto de uma unicidade cultural. A maior parte destes terroristas nasceram na europa. Cresceram com os nossos valores. Mas vivem em periferias. Quase que podemos sintetizar: nasceram, cresceram e viveram nas periferias culturais; nas periferias dos valores e direitos reconhecidos e proclamados pela cultura ocidental. Eis a razão de serem alvos fáceis do fundamentalismo vindo de outras geografias.

 

Pentecostes deve ser, acima de tudo, respeito pela diversidade cristã, mas também, respeito pela diversidade religiosa. Desde que nenhuma delas ponha em causa os Direitos Humanos, deve ser respeito pela diversidade cultural e vivencial da fé. Verdade é que a europa nem sempre é sinónimo de liberdade religiosa. Basta ver a "vergonha" que tem da sua herança judaico-cristã.

 

Mas a Igreja deve ser Esperança no meio desta tragédia. Como escreveu domingo passado no facebook o Arcebispo de Cantuária, da Igreja de Inglaterra, e cuja imagem uso no inicio desta crónica: «Hoje é Pentecostes e rezamos 'Vem Espírito Santo', Espírito de paz, de cura e de esperança. Aquilo que celebramos esta manhã na igreja é a esperança eterna que temos em Jesus Cristo, mas também nos recursos profundos que temos na nossa fé, na nossa história, na nossa cultura e que agora permitem-nos enfrentar este desafio com coragem.»

 

A Igreja é sinal de Esperança quando ela própria não nega a diversidade dos seus membros. Muitas vezes as grandes divisões dentro da comunidade são "filhas" de uma concepção uniforme e autoritária da Igreja. O Papa Francisco na homilia de Pentecostes alertou-nos para as duas tentações frequentes na Igreja: diversidade sem unidade e unidade sem diversidade.

 

Votos de uma semana "pentecostal".

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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