O valor das pausas

Crónicas 19 setembro 2019  •  Tempo de Leitura: 2

Pensas que é difícil lidar com o tempo quando tens muita coisa para fazer? E se te propuser para estares um tempo a sós contigo próprio? Pensas que te recomendo uma atitude pouco relacional? Mas se não tens tempo para estar a sós contigo, como podes encontrar tempo para estar com os outros?

 

O tempo a sós é entendido como solitário, 
enquanto o tempo com os outros entende-se como solidário.
Mas será?

 

Ao dedicares tempo a sós parece que investes no isolamento de ti próprio em relação ao mundo, mas e se te dissesse que é precisamente o contrário?

 

O tempo a sós é um momento de encontro com os nossos pensamentos, desejos, sonhos, com a nossa consciência. Em vez de nos perdermos a olhar para as cores saturadas do exterior, fechamos os olhos para darmos tempo para olhar dentro.

 

Ás vezes pode ser uma experiência difícil por não gostares do modo como vês interiormente tudo desarrumado, confuso, sem sentido. É mais fácil abraçar o ruído exterior que nos distrai do que suportar o ruído ensurdecedor do silêncio interior.

 

Os momentos de pausa para te encontrares a sós com a consciência parecem ser um desperdício de tempo, mas repara na seguinte frase. Imaginaquenãocolocoqualquerespaçoentreaspalavrasnemsequerpontuaçãoapenasletrasemaisletrasnãocreioqueconsigasentedermuitopoisnão?

 

As pausas para olhar dentro são como os espaços entre as palavras e a pontuação nas frases. Dão-lhes um ritmo e harmonia que nos permite clarificar o confuso e dissipar o enublado.

 

Da próxima vez que sentires tédio e o primeiro impulso for pegar no teu smartphone para fazer não sei bem o quê… pára!

 

Agarra esse momento. 

 

É o sinal mais claro que existe de que podes aproveitar para parar, fechar os olhos, respirar um pouco e tomar consciência dos pensamentos que passam pela tua mente.

 

É essencial aprender a lidar com a ausência de tempo e estimular momentos de paragem na nossa vida. Já pensaste. Quando um dia o tempo terrestre terminar e entrares na ausência de tempo celeste, se não aprendeste ao longo da vida a lidar com a ausência de tempo, quem te garante aguentares o Paraíso? Talvez o melhor seja aprender agora a deixar de viver o tempo e a descobrir nas pausas o tempo para viver.

Aprende quando ensina na Universidade de Coimbra. Procurou aprender a saber aprender qualquer coisa quando fez o Doutoramento em Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico. É membro do Movimento dos Focolares. Pai de 3 filhos, e curioso pelo cruzamento entre fé, ciência, tecnologia e sociedade. O último livro publicado é Tempo 3.0 - Uma visão revolucionária da experiência mais transformativa do mundo e em filosofia, co-editou Ética Relacional: um caminho de sabedoria da Editora da Universidade Católica.
 
 
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