Só Deus Basta…
Nos últimos dias muito se tem publicado sobre um possível cisma no catolicismo. Desde a viagem do Papa Francisco a Moçambique, onde ele abordou a sempre possível divisão dentro da Igreja graças ao seu desejo de reforma de costumes dos crentes, sejam eles membros da Cúria ou católicos mais ou menos ortodoxos, mais ou menos liberais, que os meios de comunicação social não param de lançar notícias sobre esta possibilidade.
Curiosamente, eu que não sou muito dado a coincidências - tento tirar sempre alguma aprendizagem dessas - vi-me este fim de semana, confrontado com realidades adversas…
O Evangelho deste domingo: «Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque, ou não gosta de um deles e estima o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus a ao dinheiro». (Lc 16, 13) No fundo, independentemente se é dinheiro, fama, prestígio ou poder questiona-me sobre o que é deveras importante para mim.
Ao mesmo tempo, passando uma tarde com um amigo de longa data que além de outras coisas é coveiro, assisti ao sepultamento de alguém que não conhecia. Aquele descer à terra numa tarde chuvosa onde as lágrimas se confundiam com as gotas da chuva, entranhou-me no corpo e no espírito…
No regresso a Lisboa e enquanto o meu pensamento vagueava por todo o meu fim de semana, ouvi na rádio uma música que venceu Sanremo em 2017, que nós ouvimos no festival da Eurovisão desse mesmo ano: "Occidentali's Karma". Recomendo vivamente.
O tema da música é o estilo superficial do mundo ocidental, baseado principalmente no materialismo e na aparência. A letra refere-se à internet como o novo ópio dos pobres, numa referência a Marx. Fala do vício das selfies como um desejo de uniformidade e conformidade com uma cultura do parecer bem e feliz. Retrata a ocidentalização das culturas orientais como uma aparência de espiritualidade… Para o cantor, Francesco Gabbani, a nossa cultura parece que está a "tropeçar" e a voltar ao tempo do macaco…
Sei que para muitos a noite é um calvário, ou no mínimo uma via sacra, porque não passa e não se dorme; não se descansa e não se encontra a paz… Eu porém, optei por fazer a viagem por estradas nacionais e não pela autoestrada. Deu-me o dobro do tempo para pensar, refletir e meditar…
Perguntei-me o por quê de tanta resistência a Francisco? Será por poder? Por domínio? Por autossuficiência e autossatisfação? Não estaremos demasiado materialistas? Demasiado ocupados com as nossas selfies? Preocupados em excesso com as aparências? Só haverá um caminho para chegar ou viver em Deus? (Ou seja, só com uma certa ortodoxia, rigorismo e legalismo?)…
No entanto, toda esta vida mundana termina com este descer à terra… Não precisaremos de mais humildade? Não precisaremos de mais docilidade à Palavra de Deus? Não precisaremos de mais oração?
Só Deus basta…
Oremos como Santa Teresa de Àvila
Nada te perturbe,
Nada te espante,
Tudo passa,
Deus não muda,
A paciência tudo alcança;
Quem a Deus tem
Nada lhe falta:
Só Deus basta.