Ainda te deixas surpreender?
Ainda nos deixamos surpreender? Ainda acreditamos que há coisas que não sabemos? Ainda somos capazes de baixar todos os muros e todas as armas para receber o que a vida tem de imprevisível? Ou estamos já formatados para ser meias-pessoas, meio-felizes, meio-realizados, meio-viventes?
Julgo que vamos vivendo de uma forma demasiado morna. Demasiado mais ou menos. Demasiado submersa em detalhes pouco importantes. Já não nos deixamos surpreender. Já não acreditamos na novidade que os outros podem (ou poderão) ser para nós. Temos ouvido seletivo: guardamos as palavras magoadas, as menos felizes e as ásperas para depois as usar como armas de legítima defesa. Das palavras bonitas que nos dizem não há registo. Não reza a história.
Vamos construindo a história do que somos com base numa previsibilidade que quase nos afoga todos os sonhos, todas as esperanças, todos os futuros por desenhar. Não queremos receber o que há de surpreendente porque isso nos faz perceber que a nossa vida é de uma banalidade tremenda.
Vale a pena lembrar que ainda há caminhos onde faltamos nós e os nossos passos. Que as surpresas existem para nos desinstalar e para nos avassalar, também. Não há nada de previsível nesta viagem de viver. Absolutamente nada. Mais vale abrir os braços ao que vier.