O que é que eu faço com o que não consigo perceber?
É uma pergunta que me assalta demasiadas vezes. Dito isto, há, de facto, muitas coisas que não consigo entender e que não parecem estar ao alcance da minha compreensão. Se pensar um pouco sobre uma eventual resposta a esta pergunta é inevitável não encontrar companhia. Não estamos sozinhos no que nos acontece. Não estamos sozinhos no tipo de inquietações que temos. Não estamos sozinhos quando esta questão nos assola. Agarrados a esta pergunta, estamos todos.
A vida pede-nos muito. Não há grande forma de contrariar isso. No nosso egoísmo velado, e na nossa forma mais narcísica de pensar os acontecimentos, podemos intuir que a nossa vida é pior que outras. Que as nossas questões são de mais difícil resposta (que as dos outros). Que os nossos problemas são de dimensão superior aos dos que nos acompanham a cada momento.
Não nos enganemos. A vida não é fácil para ninguém e dói-nos a todos. A frustração que eu tenho não é a tua, mas a base do que sentimos será a mesma. A raiva que às vezes me tira a paz não rima com as razões da tua fúria, mas a base do que nos faz ficar vermelhos por dentro…é a mesma. A alegria que me faz ganhar coragem para enfrentar cada golpe não tem os mesmos contornos da tua alegria, mas a essência do sentimento?! É a mesma.
De entre as milhentas coisas que vamos vivendo e sentindo haverá algumas que nos desconcerta mais que outras. Não lidamos bem com o que não compreendemos. Não lidamos bem com o silêncio que têm as coisas que terminam sem sentido. Não lidamos bem com as portas que se nos fecham na cara por um impulso que alguém não justificou.
E, assim, volto a perguntar… como é que eu lido com o que não compreendo? Ou melhor? O que é que eu faço quando não há razão nenhuma para me acontecer o que acontece?
Não sei. Não sei mesmo e quem me dera saber. Talvez nos sirva de consolo que o tempo do que nos acontece não é o mesmo tempo do nosso entendimento. Às vezes, só compreendemos o que nos aconteceu lá bem para trás quando chegamos aqui. Onde estamos agora. Claro que (nos) custa muito não compreender. Não desenhar uma razão. Não conseguir arranhar um motivo qualquer, por muito estúpido que seja. É o silêncio do não saber. É o silêncio do que alguém devia ter dito e não disse.
Não sei. Não sei mesmo e quem me dera saber. Ainda assim, podemos sempre ter uma esperança miudinha e consoladora que nos garante o seguinte:
(Ainda) não sabemos as razões. Ainda. Mas, um dia, tudo será claro. Tão claro que já nem nos lembraremos que, um dia, precisámos tanto de uma resposta.