Subtileza

Crónicas 23 janeiro 2020  •  Tempo de Leitura: 2

Da janela da cozinha onde tomo o pequeno-almoço vejo montes, árvores e casas harmoniosamente plantadas. Como é costume ser entre 7h30 e 8h, a luz natural é ainda ténue. Os miúdos gostam de acender a luz da cozinha enquanto comem o pequeno-almoço, mas eu prefiro apagá-la.

 

Parece que gosto da escuridão ou vivo um momento sombrio, mas a experiência é a de deixar entrar apenas a luz proveniente do exterior. Por isso, em vez de acender a luz para ver a cozinha, prefiro apagá-la para contemplar o quadro natural diante de mim.

 

Gostamos de espaços iluminados controlados por nós. Mais subtil será encontrar os espaços que a criação ilumina. 

 

Há quem observe as coisas. Mais subtil será observar as formas escondidas nos espaços entre as coisas. 

 

Ninguém está impossibilitado de ver, ouvir ou sentir o que é subtil. Podemos treinar o olhar, o escutar e o tocar, para experimentar o valor da subtileza. Um valor que desperta a consciência da atenção plena para o que é menos evidente.

 

Há quem se revele em cima de um palco, mas há quem goze da visão maior que a subtileza por detrás do palco revela. Há quem se mostre à procura de ser valorizado e há quem se esconda porque só a subtileza revela o seu real e grande valor.

 

Num mundo impregnado de Tweets, TikToks, Likes, Emojis, encontrar o valor que a subtileza revela é um desafio. A subtileza não se sujeita, nem está sujeita à métrica. E tenho muita dificuldade em entender quem vive para as métricas. Talvez seja a busca da gratificação instantânea, mas essa é mesmo assim, dura um instante e deixa um vazio no instante seguinte. A subtileza é diferente e gera diferença. 

 

A subtileza encontra o sentido profundo das pequenas coisas. Gradualmente, leva-nos a entrever a narrativa subjacente a cada gesto. De onde parte e para onde vai. 

 

«A Natureza não esconde os seus segredos por malícia, mas sim devido à sua imensidão.» (A. Einstein)

 

Daí que Einstein tenha dito algo semelhante a “subtil é o Senhor.” Quantas vezes não se manifesta Deus pela subtileza dos eventos do presente.

 

Penso que reencontrar a subtileza na vida pode abrir o olhar para a imensa e bela paisagem interior que é o Subtil em ti.

 

[Fotografia: ©Miguel Oliveira Panão]

Aprende quando ensina na Universidade de Coimbra. Procurou aprender a saber aprender qualquer coisa quando fez o Doutoramento em Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico. É membro do Movimento dos Focolares. Pai de 3 filhos, e curioso pelo cruzamento entre fé, ciência, tecnologia e sociedade. O último livro publicado é Tempo 3.0 - Uma visão revolucionária da experiência mais transformativa do mundo e em filosofia, co-editou Ética Relacional: um caminho de sabedoria da Editora da Universidade Católica.
 
 
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