Subtileza
Da janela da cozinha onde tomo o pequeno-almoço vejo montes, árvores e casas harmoniosamente plantadas. Como é costume ser entre 7h30 e 8h, a luz natural é ainda ténue. Os miúdos gostam de acender a luz da cozinha enquanto comem o pequeno-almoço, mas eu prefiro apagá-la.
Parece que gosto da escuridão ou vivo um momento sombrio, mas a experiência é a de deixar entrar apenas a luz proveniente do exterior. Por isso, em vez de acender a luz para ver a cozinha, prefiro apagá-la para contemplar o quadro natural diante de mim.
Gostamos de espaços iluminados controlados por nós. Mais subtil será encontrar os espaços que a criação ilumina.
Há quem observe as coisas. Mais subtil será observar as formas escondidas nos espaços entre as coisas.
Ninguém está impossibilitado de ver, ouvir ou sentir o que é subtil. Podemos treinar o olhar, o escutar e o tocar, para experimentar o valor da subtileza. Um valor que desperta a consciência da atenção plena para o que é menos evidente.
Há quem se revele em cima de um palco, mas há quem goze da visão maior que a subtileza por detrás do palco revela. Há quem se mostre à procura de ser valorizado e há quem se esconda porque só a subtileza revela o seu real e grande valor.
Num mundo impregnado de Tweets, TikToks, Likes, Emojis, encontrar o valor que a subtileza revela é um desafio. A subtileza não se sujeita, nem está sujeita à métrica. E tenho muita dificuldade em entender quem vive para as métricas. Talvez seja a busca da gratificação instantânea, mas essa é mesmo assim, dura um instante e deixa um vazio no instante seguinte. A subtileza é diferente e gera diferença.
A subtileza encontra o sentido profundo das pequenas coisas. Gradualmente, leva-nos a entrever a narrativa subjacente a cada gesto. De onde parte e para onde vai. 
«A Natureza não esconde os seus segredos por malícia, mas sim devido à sua imensidão.» (A. Einstein)
Daí que Einstein tenha dito algo semelhante a “subtil é o Senhor.” Quantas vezes não se manifesta Deus pela subtileza dos eventos do presente.
Penso que reencontrar a subtileza na vida pode abrir o olhar para a imensa e bela paisagem interior que é o Subtil em ti.
[Fotografia: ©Miguel Oliveira Panão]