Coronavírus, a desculpa…

Crónicas 4 fevereiro 2020  •  Tempo de Leitura: 3

A desculpa! Sim. Esta nova estirpe da gripe é uma boa desculpa para o isolamento que vivemos enquanto sociedade. Ouso dizer que esta gripe é paradigma do que pretendemos viver hoje e num futuro próximo.

 

O ideal ou o ideário da humanidade dos nossos dias é o de ser livre. Livre de qualquer constrangimento; livre de qualquer obrigação; livre de toda a limitação; em resumo, livre de qualquer limite à minha vontade de fazer o que seja.

 

Este vírus é simbólico…

 

Porque me isola no que quero ser; porque me deixa livre no meu mundo; porque não tenho que comunicar com o vizinho do que sofro ou padeço; porque "estou-me a borrifar" para o que o outro possa padecer; porque posso ser eu para mim sem responder ao outro, que comigo vive e padece da mesma realidade…

 

Se tudo isto é verdade, por que é que querem fechar o mundo à cidade de Wuhan?

 

O verdadeiro amor não se encerra em si mesmo. Abre-se ao outro sem medo de "contaminações"! O verdadeiro amor não se fecha sobre si mesmo. Quem ama, ama toda a humanidade! Quem ama, ama-se na relação com o outro! Porque o outro é fonte e objetivo desse amor!

 

O coronavírus é símbolo de uma sociedade cada vez mais egoísta, centrada sobre si mesma que, em vez de se abrir ao outro, se apaixona pelo seu próprio reflexo. Tal como o mito de Narciso.

 

O nosso mundo precisa de gente que ame. Gente que se dedique ao outro sem uma outra pretensão. Gente que ame apenas por amar. Que dê a sua vida porque faz sentido amar sem medida.

 

Que esta estirpe da gripe não seja ocasião de nos fecharmos sobre nós próprios, mas força de mostrar o amor de Jesus, Deus encarnado na realidade humana, pelo outro sem medos do que se dá e como o damos.

 

A Apresentação de Jesus no Templo não foi exemplo disto? Não foi um Deus que se revelou na sua plenitude que levou o velho Simeão a dizer que podia morrer porque os seus olhos viram a salvação?

 

«Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, porque os meus olhos viram a vossa salvação. que pusestes ao alcance de todos os povos: luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo.» (Lc 22, 29-32)

 

Votos de uma semana sem medos de dar. Sem medos de dar-se. Sem medos de "um coronavírus" que nos fecha sobre nós mesmos.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail