Porta
Deus é uma ideia ou sentimento? Muitos colocam-se esta questão, mas existem aqueles que pensam em Deus como pessoa. Que diferença faz?
Como pessoa, será a experiência que temos com Deus que leva a nossa união com Ele muito além de qualquer definição teológica. Daí que a melhor palavra após uma experiência profunda com Deus seja - ”Uau...”
Pelo facto de ser uma experiência de/com Deus, está para além do tempo e do espaço, ainda que a façamos no nosso tempo e num lugar. É por isso que chamamos a essa experiência de transcendente. Uma experiência que nos dá uma dimensão mais profunda da vida. Mas, a que tipo de experiência nos referimos quando envolve Deus?
Se te perguntasse que experiência de Deus fizeste, muito provavelmente, usarias termos abstractos. Mas se te perguntasse que experiência espiritual fizeste, responderias com termos sentimentais. Isto porque não é uníssono o conceito de Deus presente na mente de cada um de nós, enquanto que todos, de um modo ou outro, associamos as experiências espirituais a algo sensível, e todos partilhamos, de um modo geral, o mesmo tipo de sentimentos, independentemente de serem positivos ou negativos.
O que o médico Andrew Newberg observou nos diversos estudos que fez, foi que a experiência espiritual de uma pessoa, quando forte e transformativa, envolve tanto Deus como ideia, ou como sentimento. A razão é que, qualquer experiência espiritual, independentemente do seu tipo, transforma o nosso sentido da realidade e o relacionamento que temos com o mundo. Aumenta o sentido de unidade presente em todas as coisas e dos relacionamentos entre si.
Mas se existem conceitos e sentimentos diferentes, como podemos estar seguros de que, o real para nós, é o mesmo real para o outro? Se fizermos experiências espirituais diferentes não chegaremos a visões da realidade diferentes? Como é isso possível se Deus, por definição, é um só? Ou será múltiplo, como acontece em muitas culturas?
Não é a minha crença ou descrença que define o que é, e não é, a realidade. A Realidade é o que experimentamos a cada instante, mesmo sem a compreender totalmente. A Realidade é uma experiência de vida e Deus, por definição, o fundamento dessa experiência. Por isso, podem-me perguntar sobre Deus e a minha resposta expressa a ideia imperfeita que tenho d’Ele. Podem-me perguntar sobre a experiência espiritual e a minha resposta estará repleta de sentimentos. Mas quando eu e tu nos dirigimos a Deus com a Um só, a minha voz, pensamento e sentimento são únicos, dirigem-se a alguém, não a algo, e isso faz toda a diferença.
Deus é a Pessoa mais misteriosa que tenho conhecimento. E só no relacionamento profundo com Ele consigo experimentar esse Mistério. Acontece que no amor recíproco com quem está ao meu lado, Ele revela um pouco de Si mesmo em cada pessoa e, nesse sentido, ao aprofundar o relacionamento com o dom que cada pessoa é para nós, acabamos, também, por aprofundar o relacionamento com Deus.
Afinal, o outro não é um obstáculo ao meu relacionamento com Deus, mas a porta aberta para essa possibilidade, se assim quiser.
Olha para a próxima pessoa com quem te cruzares e pergunta-te - ”o que dirá Deus sobre Si mesmo quando a amar?”