De quantas máscaras somos feitos?
Não sei quantas máscaras temos. Não sei se sabemos quem somos para além das aparências que damos a conhecer aos que se cruzam connosco. Não sei se gostamos, sequer, do que somos quando nos vemos sozinhos e perante a nossa imagem mais profunda.
Sei, contudo, que vamos vivendo das máscaras que colocamos à frente do peito. Umas para nos proteger de pessoas menos boas. Outras para nos proteger de um mundo cada fez mais feroz e cheio de ameaças. Outras para nos protegermos de nós mesmos.
O perigo de viver atrás de muitas máscaras (porque, na verdade, ser-nos-á difícil ter uma só) é o de deixar de saber onde termina o que fabricamos para ser visto e o que é, de facto, verdadeiro. Sei que vivemos numa sociedade que premeia quem se esconde; quem se mascara; quem não mostra a essência do seu coração; quem não fala da sua vida; quem não dá pormenores sobre o que o/a faz sofrer; quem demonstra não ter fragilidades; quem não se emociona. Lamentavelmente, qualquer uma das opções acaba por se revelar um risco tremendo. O risco de deixar de sentir empatia pelos que sofrem. O risco de julgar que todos deveremos ser dotados de uma eficácia quase perfeita. O risco de não respeitar que os outros optem por viver despidos de véus e de máscaras.
Não gostamos de pessoas que se revelam. Temos medo delas porque nos fazem perceber que, talvez, passemos demasiado tempo escondidos atrás de muros que nos obrigámos a construir.
Talvez seja mais fácil viver mascarado e escondido. Mas quanto mais tempo passarmos assim, menos saberemos de nós e do calibre das nossas raízes.
Ainda que sejamos desafiados a fazer o contrário, vale a pena arriscar viver de uma forma mais leve, mais transparente, mais fiel ao que sentimos e ao que pensamos do mundo em que moramos.
O Carnaval já acabou. E o teu?