Maturidade
Eu tinha entrado no laboratório há 30 horas para obter dados experimentais no âmbito do meu doutoramento. Já tinha lido tudo o que havia para ler sobre sprays, gotas, e transmissão de calor. O que haveria de ler mais? Foi aí que descobri o quanto nada sabia sobre filosofia e teologia.
Comecei por ler alguns artigos da revista Zygon. Lia, lia e não parava de ler até que a minha esposa disse - “Lês muito. Devias escrever.” - A partir daí comecei a escrever em áreas muito diferentes da minha, mas o que tinha aprendido na escrita de artigos científicos foi o que usei para escrever artigos em filosofia que seriam aceites para publicação contra todas as minhas expectativas. Assim, a minha experiência é a de que aprender o que é difícil serve para muitas outras áreas da nossa vida. Por que razão fugimos do que é difícil aprender?
Medo da frustração.
Só fracassa quem nada aprende. Os que sentem a frustração de aprender algo difícil, falham muitas vezes, mas não fracassam. Por vezes ganhamos, outras vezes aprendemos, não perdemos, como no título do livro de John C. Maxwell.
Em casa podemos sentir muitos momentos de frustração e questionar o que se aprende com esses momentos. A verdade é que entrámos num período completamente novo na história da humanidade. A frustração que sentimos pode dever-se ao facto de estarmos a aprender a viver mais connosco próprios do que estávamos habituados. E quem não está bem consigo próprio, naturalmente, pode experimentar a frustração, o tédio, a ansiedade e o stress.
O nosso mundo era vivo e dinâmico pela energia proveniente da multidão de pessoas que fazia parte dos nossos grupos ou do mar de gente com quem nos cruzávamos pela rua.
A tendência para deixar a mente vaguear é maior agora, e não devemos temê-la. Este sonhar acordado leva a fazer conexões mentais que despertam a nossa curiosidade e nos abrem para o impensado.
Tudo o que vivemos actualmente foi impensado, inesperado, mas é experiência e, por isso, vida. A vida faz-se através de experiências concretas e esta é uma delas. Diz o historiador de ciência James Gleick que «nascemos conectados, [mas] a solitude vem com a maturidade.»
A solitude do tempo presente semeia o gérmen da conectividade futura. Oxalá amadureçamos no processo.