O «contágio» da esperança!

Crónicas 14 abril 2020  •  Tempo de Leitura: 5

Estamos no Tempo Pascal. Uma Páscoa muito diferente! Este ano, as celebrações do Vaticano marcaram, certamente mais que em anos anteriores, milhões e milhões de pessoas, crentes e não-crentes. Aquela imagem do Santo Padre no adro da Basílica de São Pedro, tal como na noite de 27 de Março, permanecerá na mente e na memória de muita gente.

 

Uma praça deserta e o Papa sozinho carrega consigo todo o sofrimento do mundo, especialmente das vítimas do Covid-19 que não olha a diferenças raciais, étnicas, religiosas ou sociais. 

 

A curiosidade está no facto que nesta Via Sacra dois grupos específicos, de cinco pessoas cada, levam a cruz: Um da prisão "Due Palazzi", de Pádua, de onde vêm as meditações das 14 estações, e um outro do Departamento de Saúde e Higiene do Vaticano.

 

Os textos que marcam as 14 estações, recolhidas pelo capelão Don Marco Pozza e pela voluntária Tatiana Mario, são histórias verdadeiras escritas na primeira pessoa, mas de forma anónima, para que a voz de alguém seja a voz de todos. 

 

O Covid-19 e as Vidas Presas parecem entrar em choque com a "ideia" de imortalidade que invadiu a ciência, a sociedade e a cultura neste inicio de século e talvez essa tempestade de pouco mais de um mês não tenha sido suficiente para modificá-la. No entanto, nosso olhar mudou de alguma forma, pelas janelas não vemos mais o mesmo mundo. A paisagem que observamos da "prisão" da nossa casa costuma estar cheia de dor. As prioridades foram pelo menos colocadas em crise, se ainda não subvertidas.

 

Já percebemos a perda geral e profunda de certezas, de hábitos consolidados, dos modelos que usamos até agora para decifrar a realidade. Sentimos a tristeza de não entender completamente em que consiste nosso "legado", o que permanecerá depois deste "furacão", e que futuro teremos que construir quando conseguirmos sair de casa novamente. Sabemos que haverá muito trabalho a fazer.

 

É como se este ano trouxéssemos as etapas da Quaresma coladas na pele, até à morte de Cristo, celebrada na Sexta-feira Santa, naquela praça vazia a ouvir ao sofrimento de quem matou, de quem sofre pela morte de um familiar, de quem sofre por um familiar que matou…

 

O que nos falta e cujo desejo e necessidade sentimos é a Esperança.

 

A Esperança deve ser a missão fundamental do cristão! Não deve ser apenas palavra proferida, mas empenho, trabalho e virtude que não se reduz ao simples otimismo e que é necessário construir. A Páscoa de Jesus, não termina na Sexta Feira da Paixão, mas brota de nova vida no Domingo da Ressurreição.

 

Abramos os olhos! Olhemos para o trabalho árduo dos médicos, enfermeiros e auxiliares da ação médica! Olhemos para as centenas de voluntários que dão a vida nos lares de Terceira Idade, na distribuição do pão pelos Sem Abrigo, pelos isolados em quarentena ou por pertencerem a grupos de risco! Olhemos para os que produzem máscaras e demais material médico! Olhemos para aqueles que se disponibilizam para fazerem campanhas de angariação de fundos e assistir as diversas necessidades de hospitais, lares e casa de acolhimento!... Isto tudo é exercitar a Esperança.

 

 «Ó Deus, luz eterna e dia sem ocaso, cumula de teus bens aqueles que se dedicam ao teu louvor e ao serviço de quem sofre, nos inúmeros lugares de sofrimento da humanidade. Por Cristo, nosso Senhor. Amen.»

 

Foi esta a oração da última Estação da Via Sacra de Sexta Feira Santa.

 

«O Ressuscitado é o Crucificado; e não outra pessoa. Indeléveis no seu corpo glorioso, traz as chagas: feridas que se tornaram frestas de esperança. Para Ele, voltamos o nosso olhar para que sare as feridas da humanidade atribulada», disse o Papa Francisco na sua mensagem Pascal antes da bênção Urbi et Orbe.

 

Votos de uma excelente e esperançosa semana de Páscoa.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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