A esperança tem um colo maior que o pessimismo
Nos dias que correm. Perdão. Nos dias que andam (bem lentamente) temos sido mais sugados pelo pessimismo. Antes de toda esta suspensão obrigatória e imposta, vivíamos reféns de um ritmo alucinante. Tudo acontecia demasiado depressa, à velocidade de um cruzeiro primo do Titanic. Agíamos como autênticos donos do mundo, sem ter nada que fosse, realmente, nosso.
Não estávamos felizes. E agora também não estamos.
Não sabíamos gerir o tempo. E agora também não sabemos.
Não tínhamos tempo para o mais importante. E agora também não temos.
Não sabíamos ver o lado bom da vida. E agora também não vemos.
Não atravessávamos zonas que fossem além da zona de conforto. E agora também não atravessamos.
Estamos ao colo do pessimismo. Como estávamos antes. Tudo a correr mal. Tudo é demasiado. O ritmo continua a ser de loucos. O trabalho é em quantidades absurdas e inumanas ou calou-se simplesmente e deixou de existir. Estamos fartos uns dos outros e da nossa versão de perfil online e virtual. Queríamos mais pele. Mais beliscões de alma que nos agarrassem à vida e ao mundo com as unhas e os dentes de antes.
Já chega de nos deixarmos estar neste colo de amarguras e queixumes colecionados. O colo da esperança é mais bonito que este. Mais leve. Mais tranquilo. Mais certo. É da esperança que nascem frutos. Do pessimismo só nascem cardos e espinhos.
É da esperança que surge o essencial. O que está escrito nas entrelinhas. O que está subentendido no sorriso que alguém teima em devolver-nos.
É da esperança que nasce tudo.
Enquanto estamos ao colo do pessimismo não nos permitimos reparar que a vida continua a existir. Há bebés que nascem, saudáveis, no meio de um mundo virado de pernas para o ar. Alheios a tudo, mostram-nos a única coisa que importa:
É da esperança que nasce tudo.