Inquietude

Crónicas 23 abril 2020  •  Tempo de Leitura: 2

«Fizeste-nos para Ti e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti.» (Santo Agostinho)

 

Se por um lado é a quietude que nos permite re-centrar o que realmente produz valor na nossa vida, a inquietude é o que nos permite caminhar em busca de um sentido e significado para tudo o que nos faz viver.

 

No conforto de nossa casa participamos na Eucaristia, em conferências e acções de formação. No meu caso dou aulas e tudo através da internet, qual ferramenta que veio suprir a necessidade de entrar em contacto com os outros. Mas será toda a conexão online parte da nossa inquietude?

 

A inquietude faz-se com o que nos desinstala e desconforma. Um desconformar que não pretende deformar, mas ajustar a forma que a vida assume perante as condições de possibilidade de cada um. 

 

A inquietude desperta em nós um sentido de procura que não se conforma apenas com o que estamos de acordo, mas encontra no que sabemos pouco o impulso para ir à procura daquele algo mais que traz profundidade à nossa experiência.

 

Por vezes será a inquietude a ajudar-nos a pensar bem se o caminho encetado é o melhor, ou se fomos seduzidos pela onda do momento e convém rever as nossas escolhas. 

 

O que em outros tempos de pandemia mexia com a cabeça das pessoas - astrologia, profecias baratas, remédios milagrosos, etc. -, revelando quão pouco ou nada se sabia sobre o que realmente se passava à sua volta, hoje, corresponde às ondas subtis e fantasma da desinformação que nos levam a pensar sobre o que é real e o que é ficção.

 

O modo como estamos conectados não prima pela diversidade e riqueza de cada um, mas privilegia alguns espaços controlados, não por alguns, mas por algo. Sim, as redes sociais onde pensamos encontrar resposta para a nossa inquietude é uma inteligência artificial que gere os nossos “gostos” em função daquilo que os outros gostam. O sentido de querer percorrer o caminho despertado pela inquietude na vida virtual leva à uniformidade, não à unidade na diversidade. 

 

A inquietude conduz-nos ao repouso onde não estamos parados, mas contemplamos o infinito presente no finito, procuramos o profundo no meio de tanta superficialidade e a plenitude de um corpo-mente-espírito despertos para a Realidade que nos faz experimentar a Verdade da Unidade na Diversidade.

Aprende quando ensina na Universidade de Coimbra. Procurou aprender a saber aprender qualquer coisa quando fez o Doutoramento em Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico. É membro do Movimento dos Focolares. Pai de 3 filhos, e curioso pelo cruzamento entre fé, ciência, tecnologia e sociedade. O último livro publicado é Tempo 3.0 - Uma visão revolucionária da experiência mais transformativa do mundo e em filosofia, co-editou Ética Relacional: um caminho de sabedoria da Editora da Universidade Católica.
 
 
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