Ainda fazes planos?
Já deixaste de fazer planos para o dia a seguir a este?
Já deixaste de lado as expectativas sobre o que podia ter acontecido?
Já pensaste que não vale a pena ocupar tanto tempo a planear quando, de repente, podes ser arrombado por uma tempestade qualquer?
Já deixaste de querer controlar o que (não) está nas tuas mãos?
Já percebeste que não vale a pena contar com absolutamente nada uma vez que, subitamente, tudo se vira do avesso?
Já tiraste um dia, uma hora, um momento para pensar no que queres deixar de ti nos outros, quando tudo isto passar?
Já pensaste no que serás se nada disto passar assim tão depressa?
Já aprendeste a pensar nas pessoas com mais amor? Sem as julgar pelo que vestem, pelos amigos que têm, pelas casas que mostram nas redes ou pelas paisagens que te impingem a partir das suas varandas?
Já percebeste que se o barco se virar a culpa também pode ser tua?
Já percebeste que ainda não é hora de baixar a guarda por muito que te apetecesse?
Não sei se estamos na mesma ou se estamos mais prontos do que nunca para ser diferentes do que éramos. Não sei se já percebemos que é preciso andar, ainda, muito caminho. Só chega mais longe quem se atreve a percorrer trilhos que nunca ninguém percorreu. O coração só dilata quando se deixa entrar, também, aquilo que dói.
Não sei continuamos reféns do tempo e dos dias ou se já conseguimos controlá-los um bocadinho mais.
Continuamos a fazer planos e a marcar os dias no calendário. Continuamos a sonhar com as festas que vamos fazer. Com os jantares de mesa cheia. Com os abraços que nos voltar a fazer sentir gente. Continuamos a pensar nos reencontros. Nos netos. Nos avós. Nas mães. Nos pais. Nos irmãos. Nos afilhados. Nos sobrinhos. Nos filhos.
Continuamos a fechar os olhos e a juntar as caras dos nossos. Às caras juntamos as mãos, os braços, os apertos de mão, as palmadas nas costas, os beijos gordos, as mãos outra vez. A fazerem-se laços. As caras outra vez. A fazerem-se oásis no meio do deserto desta solidão que ninguém é capaz de aceitar.
As caras. As mãos. O toque. A pele. O perfume. O cabelo. Os olhos a querer ver tudo outra vez, para nunca mais esquecer.
Ainda fazemos planos. E são tão bonitos.