O regresso à normalidade. Que normalidade?
Depois do "Estado de Emergência" é compreensível e até legítimo o desejo do regresso a uma certa "normalidade", a uma "vida quotidiana" que era a nossa. Porém, vamo-nos apercebendo que essa dita "normalidade" ainda não existe. O que existe é muita incerteza.
Desde que se iniciou o "desconfinamento", tenho percebido que muita gente, principalmente os jovens, veem que essa normalidade não vai chegar tão cedo o que está a gerar uma certa ansiedade. Ainda que outros sofram por razões de trabalho, pois com esta paragem viram-se forçados ao Layoff ou mesmo a perderem o emprego, essa "normalidade" talvez não queiramos assim tanto que volte. Por existir uma enorme instabilidade quanto ao futuro próximo, o que causa muito sofrimento, suspiramos pela vida anterior à pandemia.
Há uma vontade de esquecer este passado recente e seguir com a vida em frente. As imagens de tanta gente morta, principalmente aquelas que nos chegaram de Itália e de Espanha, o extremo esforço de médicos, enfermeiros, bem como todos os restantes que nos socorreram e ainda socorrem na saúde, na alimentação, etc.. ficaram impressas na nossa memória, nos nossos olhos e nos nossos corações.
Creio que temos que saber guardar todo o bem que foi e ainda é feito em prol do humano. Esse bem deve permanecer e continuar a ser fecundo nas nossas aldeias e cidades. Esse bem deveria transformar a vida social. Deveríamos revisitar com paciência, sem pressa e sem procurar culpas ou culpados, os sentimentos, as emoções, os medos que nos tocaram e atravessaram as nossas vidas, as nossas relações familiares e as nossas amizades.
Ouvimos falar da possibilidade de uma segunda vaga de coronavírus. Isto quer dizer que nada é ainda certo. Por esta razão, a necessidade de uma séria reflexão do que somos enquanto sociedade? O que aprendemos? Tudo o que experimentamos está a mudar-nos? E em que aspetos? Ou é algo que não nos diz respeito? Quais as perguntas sobre os nossos estilos de vida, sobre nosso relacionamento com os outros, com a comunidade?
Que aqueles pequenos gestos feitos aos idosos nossos vizinhos; aqueles pequenos "jeitos" que demos àqueles confinados da quarentena; as simples palavras trocadas com os isolados dos amigos ou da família, não tenho sido em vão…
Além de precisarmos de uma vacina, precisamos urgentemente de uma nova sociedade que conseguimos vislumbrar no meio desta tragédia que tem sido a luta contra o coronavírus.
Que Maria, Mãe e Serva de Deus, nos ajude a construir este mundo mais humano que estamos perdendo na "normalidade" que tanto suspiramos de um passado recente.