Estamos sempre à procura de ser tão produtivos que nos esquecemos da alegre exploração renovadora da vida humana que é a curiosidade. O professor de psicologia Todd Kashdan define curiosidade como o «reconhecimento e desejo de procurar conhecimento e informação novos, e a subsequente alegria de aprender e crescer.»Seremos ainda assim, como as crianças, ou vivemos antes o pânico da atenção?
«Uma riqueza de informação cria uma pobreza de atenção.» (Herb Simon, economista)
Alguns investigadores chamam ao estado distractivo causado pelo excesso de vida digital um estado de policonsciência, isto é, onde a nossa atenção divide-se entre as pessoas com quem estamos e aqueles com quem nos conectamos através de um dispositivo móvel. De tal maneira que o voltar sistemático do nosso olhar indica um certo estado de pânico de perder alguma coisa de importante na hora, minuto, segundo, a cada momento. Fragmentamos a nossa consciência por múltiplos relacionamentos, levando-nos ao pico de distracção no estado policonsciente.
A nossa consciência é o que nos permite experimentar na pele o quanto estamos vivos. E, cada vez mais, torna-se urgente e necessário aprender a conservar esse espaço mental da nossa consciência. Por isso, viver tempos de pausa para prestar atenção à mínima coisa nunca foi tão importante como hoje.
Quando activamente procuramos notar em coisas novas, colocamos os pés no presente e cada detalhe chama-nos à atenção, despertando o ser curioso dentro de nós, mas requer treino.
Passa dez minutos à janela e olha. Contempla a vista e não importa se é o prédio da frente. A vida 4D pintada na tua janela está cheia de detalhes que talvez nunca te tenhas dado conta. Pensa em como tudo o que vês está fora do teu controlo e sente cada movimento como um despertar para a curiosidade. Pois, “o que é aborrecido torna-se estranho” (Sam Anderson).
Experimenta agora mudar o que ”é” para ”pode ser.” Uma sugestão do psicólogo e escritor Adam Grant que chama esta prática de pensamento condicional. Por exemplo, pega numa carta de um naipe qualquer. É verdade que estará correcto dizeres — ”isto é uma carta”— mas experimenta dizer antes — ”isto pode ser uma carta.” Cedo começas a imaginar o que poder ser, como um marcador de livros, um telhado de uma casa se dobrares, e quantas outras coisas diferentes poderão vir à imaginação. Tudo somente porque mudaste no teu discurso algo que é para o que pode ser.
Uma outra experiência seria desenhares tudo o que estiver à tua vista como objecto isolado. Pode ser uma colher, um copo, um lápis, mesa, coluna, galheteiro, o que quiseres. A designer Carla Diana oferece aos seus alunos esta prática porque ajuda a notar melhor cada coisa. Quem tem sempre à mão um pequeno caderno de desenho, pode acabar por ficar “viciado” na possibilidade que cada objecto abre à nossa criatividade. O resultado é o despertar da nossa curiosidade em relação a tudo. Até a mais pequena coisa.
Porquê voltar a ser curioso como uma criança? Talvez porque a atenção que a curiosidade requer seja uma porta para a gratidão, deslumbramento e reciprocidade de que o mundo tem tanto para oferecer quando abrimos os nossos olhos aos pequenos detalhes.