No meio da tragédia, um agradecimento.
Fim de semana trágico! Reconheço que já tinha passado muito tempo desde a última vez que derramei lágrimas, tão sofridas como estas, por alguém que não conheci.
Nós que nos cansamos da normalidade dos nossos dias, assistimos impotentes ao sofrimento de tanta e tanta gente. Nem quero imaginar o que sofrem os que nos hospitais ainda lutam pela sobrevivência; os familiares que perderam os seus entes queridos; as pessoas que viram literalmente derretidos os seus haveres, muitos dos quais fruto de muitas canseiras e trabalhos ao longo de tantos anos... Rezo para que o sofrimento dos que morreram tenha sido mínimo e auxiliado pela maternidade de Maria e pelo amor do seu filho Jesus.
Não é o tempo nem tema para grandes discussões ou reflexões. Vamos deixar aos responsáveis deste cantinho à beira mar plantado, para agirem sobre as causas disto tudo. Parece ter tido inicio num fenómeno natural, porém sabemos que, muito podemos fazer para evitar tamanhas tragédias.
Neste pequeno texto quero apenas AGRADECER. Agradecer a todos os que de imediato correram em socorro desta população tão esquecida ao longo do ano. Passados mais de 24 horas, começamos a ver alguns gestos tão singelos mas com consequências tão fortes. Vejam o caso daquele vídeo do senhor inglês, já viral nas redes sociais; a dona Adelaide que em Nodeirinho abrigou 7 turistas na sua casa...
No entanto, não podemos, nunca poderemos esquecer o trabalho, a abnegação de tanto e tanto bombeiro! Claro que todos nós teremos sempre uma exceção para contar, como em qualquer profissão ou modo de vida humano. Mas se há missão digna e altruísta é a de bombeiro voluntário. Ponto final. Claro que não menosprezo todos aqueles "ligados" à saúde do corpo e do espírito. Mas, deixar as suas famílias, os seus empregos, os seus tempos livres para, arriscando a própria vida, salvar a vida e os haveres dos outros...
Quando comecei estas minhas crónicas no Projeto iMissio, escrevi sobre o José Santos - Zé Pinto, para os amigos. Nunca esqueci uma das suas razões para ser voluntário na corporação de Loures: «O que me leva a continuar nos bombeiros é o espírito de entreajuda. A capacidade de fazer a diferença entre o bem e o mal.» De facto, não basta passar a vida a lamentarmo-nos que "as coisas estão más" e que "eu faria de outra forma". Temos, necessitamos de sair de nós mesmos e ir ao encontro do outro. Temos que parar de comentar os "ses" e agir.
Creio que os nossos governantes e todos aqueles de maior responsabilidade social, seja no ordenamento do território, no licenciamento de construções ou explorações florestais, sejamos nós, com os nossos bens patrimoniais e a nossa cidadania ativa, temos que ser como um bombeiro. A partir do momento em que vivermos para o outro e não de nós e para nós, veremos um mundo mais a salvo! Tal como o bombeiro que ao ouvir a sirene deixa tudo e vai ao encontro do acidentado, assim cada um de nós é também chamado a ver no outro um seu semelhante. Um exemplo concreto é o do Padre António Teixeira, ao doar o seu vencimento de Junho.
A afirmação da dignidade do ser humano, é decisiva para o futuro da humanidade. Ao centro está o Ser Humano. Mais do que um dar, é um “dar-se”! OBRIGADO BOMBEIROS!