Quando não quebramos o ritmo, o ritmo quebra-nos. Somos frágeis e pensamos que reconhecê-lo é um sinal de fraqueza. Diria antes ser um sinal de humildade.
O que é frágil sê-lo-ia menos, se ao menos dobrasse. Aprender a lidar com a nossa fragilidade talvez passe por desenvolver a capacidade de dobrar. Ser flexível. Menos rígido com os outros e, sobretudo, connosco próprios.
Queremos mostrar-nos fortes, mas sentimos os mesmos receios que os outros. Somos humanos e a humanidade exige humildade. Somos todos limitados e enquanto não aceitarmos as nossas limitações, dificilmente descobriremos quem realmente somos, para perceber o que mais poderemos ser.
A fragilidade não é o fim, mas o princípio que abre a porta da nossa criatividade para a possibilidade de usarmos as nossas limitações na superação dos obstáculos interiores que nos fecham sobre nós próprios. Obstáculos como o perfecionismo; falar muito e escutar pouco; dizer a tudo que sim, ou dizer não a tudo; recusar a ajuda dos outros; e quantas outras barreiras interiores intransponíveis pela falta de reconhecimento da nossa fragilidade.
Frágil. Como um vaso de porcelana que se quebra ao mínimo embate no sítio errado. Mas quanto não é o amor dos outros quando revelamos os cacos e são para nós o ouro que nos junta de novo, como a técnica japonesa do kintsugi.
Frágil. Como aquela massa de esparguete isolada que facilmente se quebra, mas que junta a muitas outras massas frágeis permanecem mais fortes durante mais tempo.
Não tenhas medo da fragilidade.
Estou cada vez mais convicto da fragilidade fazer parte da grandeza humana quando se sujeita a dobrar por amor, mostrando quanta grandeza há na humildade de aceitar ser-se quem é.
Repito. Podemos sofrer com a fragilidade, mas se aprendermos a dobrar a língua, as exigências, os ritmos acelerados, podemos não voltar à posição inicial porque as tensões podem dobrar-nos acima do ponto crítico, mas será esse o momento de recomeçar e encontrar o novo “normal.”
Recordo aquelas pessoas idosas das aldeias com as costas dobradas de tanto se dobrar ao longo dos anos para sustentar os outros e fazê-los felizes. Parece que o corpo deformado é sinal de fragilidade, mas talvez o grau de dobragem seja proporcional à quantidade de amor. E quando perguntamos pelas histórias escutamos quando sofrimento está por detrás das costas encurvadas. Dobraram para não quebrarem, ajudando a manter de pé os frágeis que estavam próximos de si e à sua volta.
Quem sabe ser frágil é resiliente no seu saber.