Estar parado também é caminho?

Crónicas 21 junho 2017  •  Tempo de Leitura: 2

Estar parado também pode ser caminho. Estar à espera também pode fazer parte do caminho. No entanto, parece-nos difícil não associar a esta palavra uma noção de movimento, de andança e de estrada percorrida. Soa-nos diferente, e até estranha, essa ideia de parar.

Parar.

Parar para ver o que há em redor.

Parar para descansar à beirinha do que já se construiu.

Parar para recuperar forças.

Parar para respirar fundo e para fechar os olhos a tudo o que já não precisa de ser visto.

Parar para deixar cair o que já não faz falta.

Parar para aprender a abrir os braços outra vez.

Parar para encontrar um lugar seguro e para reparar no que nos tinha escapado antes.

Estar parado também pode ser caminho. Para andar para a frente e para soprar força aos remos da vida que vamos levando ao peito, é preciso saber atirar a rapidez para longe. É preciso despedir a rotina e dar casa a um ou outro dia que (nos) faça a diferença. Que nos faça diferentes.

Estar parado não é andar para trás. É segurar as aventuras e as histórias que fizemos nascer e deixá-las pousar, ao de leve, nos ramos de dentro que vão dar ao coração.

Estar parado não é desistir. Não é deixar de querer.

Estar parado é saber abrandar. Colocar o pé no travão de tudo o que nos obriga a avançar só porque sim.

Fazer caminho também é ousar parar. Para descobrir, sem pressas, que dentro dos trilhos que percorremos está mais de metade do que somos.

Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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