Estar parado também é caminho?
Estar parado também pode ser caminho. Estar à espera também pode fazer parte do caminho. No entanto, parece-nos difícil não associar a esta palavra uma noção de movimento, de andança e de estrada percorrida. Soa-nos diferente, e até estranha, essa ideia de parar.
Parar.
Parar para ver o que há em redor.
Parar para descansar à beirinha do que já se construiu.
Parar para recuperar forças.
Parar para respirar fundo e para fechar os olhos a tudo o que já não precisa de ser visto.
Parar para deixar cair o que já não faz falta.
Parar para aprender a abrir os braços outra vez.
Parar para encontrar um lugar seguro e para reparar no que nos tinha escapado antes.
Estar parado também pode ser caminho. Para andar para a frente e para soprar força aos remos da vida que vamos levando ao peito, é preciso saber atirar a rapidez para longe. É preciso despedir a rotina e dar casa a um ou outro dia que (nos) faça a diferença. Que nos faça diferentes.
Estar parado não é andar para trás. É segurar as aventuras e as histórias que fizemos nascer e deixá-las pousar, ao de leve, nos ramos de dentro que vão dar ao coração.
Estar parado não é desistir. Não é deixar de querer.
Estar parado é saber abrandar. Colocar o pé no travão de tudo o que nos obriga a avançar só porque sim.
Fazer caminho também é ousar parar. Para descobrir, sem pressas, que dentro dos trilhos que percorremos está mais de metade do que somos.