Chave

Crónicas 20 agosto 2020  •  Tempo de Leitura: 4
E se as portas não tivessem chave? Seria porque nos sentimos seguros de que ninguém as abre para violar a nossa privacidade. Mas a realidade é que as chaves existem. Quantas tens no teu porta-chaves? Que portas abrem e o que significam essas portas para ti?

A chave pode servir, também, de metáfora. Ou seja, representa aquele conceito, ideia, pensamento que abre o nosso horizonte para novas possibilidades.

Sabes fazer uma chave? Saber usar uma chave? E se essa chave for uma metáfora? Já a sabes fazer e usar? 

No início, as chaves parece que não funcionam bem. É preciso usá-las para limar as arestas. Porém, o mínimo defeito numa reentrância pode ser o suficiente para produzir uma chave que não abre qualquer porta. De que serve essa chave? Pode não servir em porta alguma, mas isso faz dessa uma chave única ou defeituosa?

Quantos segredos não fazem de chaves os objectos mais valiosos e pelos quais vale a pena dar a vida? E quando penso nisso entrevejo na chave a sua natureza mais profunda: abertura.

O que abre liberta e cada um de nós é, nesse sentido, um libertador por sermos uma chave que abre a porta para uma realidade única que se entrelaça com outras realidades para construir a narrativa do cosmos. A chave da nossa história pessoal. 

Por vezes, a chave é o que permite descodificar os enigmas que nos intrigam, as mensagens escondidas no seio do mundo, aguardando serem reveladas ou temidas. Talvez por isso existam chaves perigosas por desconhecermos que tipo de sequência de eventos desbloqueiam. Quem sabe quantas chaves poderiam ter criado realidades completamente diferentes daquela em que vivemos.

A cantora e empresária Caitlin Crosby criou uma empresa chamada The Giving Keysque procura ajudar as pessoas, uma chave de cada vez. Sim, através de chaves com palavras inspiradoras gravadas, consegue-se transformar a ansiedade em gratidão, a insegurança num abraçar das limitações, de modo a responder a uma cultura egoísta com uma altruísta.

O dinheiro das vendas destas chaves serve para pagar os salários de pessoas sem-abrigo que trabalham neste projecto, de modo a recuperarem a sua vida. Se pensarmos bem, as chaves nada abrem, fisicamente, mas a palavra gravada na chave é o que abre as portas de corações e mentes fechadas sobre si mesmas, para se abrirem aos outros e às duras realidades à sua volta. Mas o interessante desta iniciativa é que as chaves destinam-se a gerar acções em cadeia.

Havia cerca de um ano quando Taylor recebeu de um amigo seu uma destas chaves que dizia “Inspira”. Nessa altura usou a palavra para reconstruir a sua vida e começou a inspirar outras pessoas a fazê-lo. Um dia ficou de tal modo comovida com uma situação de vida que decidiu oferecer a chave a outra pessoa: a sua tia.

Há dois anos que foi diagnosticado um cancro na garganta ao marido. Esse sofreu muito com os efeitos secundários do tratamento, estava incapacitado de comer a maior parte das coisas e a sua tia tem sido forte e procurado atender às suas necessidades. Taylor decidiu dar a chave à sua tia com esta palavra para lhe lembrar que não está sozinha e de que mesmo quando a vida se torna difícil, é sempre importante ser uma inspiração para os outros.

E se tivéssemos uma chave que abre todas as portas do saber e viver humanos? Para mim existe uma chave assim. É uma pessoa especial que poucos conhecem enquanto não se arriscarem a um relacionamento misterioso e intrigante com Ele. Jesus. Ele que disse ser o caminho, a verdade e a vida, mas ter-se-á esquecido de dizer ser a chave-mestra que abre qualquer porta? Ou terá deixado isso em branco para que o descobríssemos?

Aprende quando ensina na Universidade de Coimbra. Procurou aprender a saber aprender qualquer coisa quando fez o Doutoramento em Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico. É membro do Movimento dos Focolares. Pai de 3 filhos, e curioso pelo cruzamento entre fé, ciência, tecnologia e sociedade. O último livro publicado é Tempo 3.0 - Uma visão revolucionária da experiência mais transformativa do mundo e em filosofia, co-editou Ética Relacional: um caminho de sabedoria da Editora da Universidade Católica.
 
 
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