Onde se guarda o que temos de pior?
Nem sempre conseguimos ter a capacidade para mostrar o melhor que temos e somos. Num momento de maior cansaço, de maior angústia, de maior sofrimento ou inquietação, não somos capazes de olhar para o mundo com ternura. De olhar para os outros com vontade de os ver realmente. Não somos capazes de esconder a nossa pior versão.
Vivemos rodeados de pressupostos. De variantes mais ou menos suportáveis do que é politicamente correto ou socialmente aceitável. É suposto chegar a horas. Mostrar boa cara. Estar sorridente. Ser produtivo, independentemente das horas. Ser corajoso, independentemente do problema ou da prova. Ser calmo, independentemente da tempestade e da tormenta.
Aquilo que ninguém nos ensina é a lidar com aquilo que temos de mau. Onde é que colocamos as nossas caras feias? As nossas impaciências? As nossas fraquezas? A nossa insuportabilidade?
Escondemos. Guardamos. Fintamos. Arrumamos e varremos para o canto mais escuro e menos arejado da alma. O problema é que as coisas escondidas não duram quietas a vida toda. Aparecem, de facto, quando menos esperamos. E se não sabemos lidar com o nosso lado mais feio, ele vai aparecer mesmo quando não lhe tivermos dado permissão para isso.
É bom acenar aos outros com o nosso lado bonito, mas também é bom dar a conhecer aquilo que não temos de bom. Aquilo que gostávamos de melhorar. Aquilo que ainda não conseguimos fazer.
Onde se guarda aquilo que temos de feio? Junto ao que temos de mais bonito. Só assim será possível amar tudo.