Prometes-me que isto tem fim?
Fomos desafiados a reaprender a conviver e a mostrar carinho pelos que nos rodeiam. Quase que parece que deixámos de gostar uns dos outros.
Não te aproximes. Chega-te para lá. Beijos não, olha o Covid. Não me agarres na mão, olha o vírus. Guarda-te de mostrar afeto. Promete-me que quando isto acabar voltamos a entrar num avião para qualquer lado. Para qualquer lado, não. Para um lugar bonito. O mais bonito que consigamos imaginar. Promete-me que isto há de acabar e que voltamos a ver os sorrisos que andam escondidos. Promete-me que vamos ser tão melhores e tão diferentes quando isto tiver fim. Prometes?
Era bom que pudéssemos prometer. Era bom que pudéssemos avistar o último capítulo desta história. Mas ainda não sabemos. E não podemos prometer grandes coisas.
Podemos, no entanto, tentar descobrir novas formas de amar os outros. Não nos podemos abraçar, mas podemos dizer, com palavras, o que o corpo não pode. Não podemos tirar o nariz da máscara, mas podemos tirar do nosso tempo para dar aos outros. E se os olhos continuam nus, mais vale aproveitar para reaprender a ver. Para reparar. Para notar. Para receber os detalhes que a vida nos vai dando.
Deixámos de poder fazer promessas sobre quase tudo mas podemos prometer-nos no encurtar de distâncias. Podemos retomar contactos com pessoas de quem não recebemos notícias há muito. Não podemos fazer visitas aos lares o aos hospitais, mas podemos rezar por essas pessoas. Ou, simplesmente, desejar-lhes bem.
Sim, mas isso é pouco (podem dizer vocês).
Sim, mas isso não chega.
É pouco, mas, por enquanto, vai ter de chegar.
Vai ter de nos bastar o que temos. Vão ter de nos bastar os que temos.
E sim. Vale a pena desejar que tudo isto tenha um fim. Ainda que não o possamos prometer.