Põe o coração ao alto e descansa!

Crónicas 11 novembro 2020  •  Tempo de Leitura: 2

Não somos esperançosos o suficiente. Estamos a viver um tempo sem precedentes, e inegavelmente histórico, que nos cilindrou a todos. Mas sinto que estamos como que um pouco órfãos de esperança e, até, de algum otimismo. Ficamos ofendidos se nos surpreendem com conversas com notas de muita positividade. Não queremos acreditar que virão melhores dias porque não temos (ainda) capacidade para os vislumbrar. É como naqueles dias em que chove o dia todo. Quase nos esquecemos do sol que (quase) sempre está. Lamentamo-nos. Maldizemos a chuva e a tempestade. Tropeçamos no nosso mau humor, no nosso sobrolho franzido e na nossa rispidez.

 

Se pensarmos bem, é mais ou menos isto que nos acontece neste momento tão difícil da vida de todos nós. Não queremos isto. Não queremos esta chuva. Queremos que o sol volte para podermos voltar a dizer mal de tudo e de todos. Porque nem o Sol parece ser suficiente para nos afastar as impaciências do coração e dos dias.

 

Só conseguimos refilar. Reclamar. Atirar com a vida ao chão. Lamentar o quanto não aproveitámos a vida enquanto nos foi permitido.

 

Vale a pena pensar um pouco e sair desse círculo de venenos para o pensamento: de que me adianta pensar que não aproveitei? Que não vivi intensamente? Que não fiz como devia? Que não disse mais e melhor?

 

Não adianta de nada porque, na verdade, esse tempo já não existe. Está, já, longe de nós e do que somos agora.

 

Agora, é tempo de tentar colocar o coração ao lado dos pés, que vão andando sem saber por onde. É tempo de deixar que o Céu nos console. Seja porque nos trouxe um dia de Sol e porque é azul-bonito ou porque acreditamos que nele está contida a morada do Pai.

 

Agora, é tempo de pensar com calma no que queremos enquanto temos de viver estas horas. É tempo de entregar o coração a Quem pode cuidar dele. De o deixar descansar para que se cure das feridas que lhe impomos com o nosso egoísmo, a nossa falta de vontade e as nossas teimosias.

 

Se puderes, descansa. Respira fundo e deixa que tudo esteja como tem de estar.

 

O sentido disto? Havemos de o encontrar mais à frente.

tags: Marta arrais

Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail